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4 de novembro de 2008

A deficiente idéia de estigmatização - 5 passos para se tornar um Indie (Isa Camargo)

“Oe, oe, oe, eu sou mais indie que você
Oe, oe, oe, eu sou o King dos blasês...”

Há alguns dias, vi uma matéria em um caderno especializado do jornal Folha de S. Paulo, de 2006 (peço desculpas pela imprecisão) sob o título “Indies”, contendo cinco passos designados como se fossem instruções para se qualificar um(a) indie.
Mas, partindo-se do princípio, o que é indie?

Segundo “Indie Blog”, disponível em http://indieposts.blogspot.com/2007/10/cultura-indie.html, o conceito surge na década de 50 nos EUA, para identificar bandas independentes: “Com o tempo foram abreviados para Indie, que agora não se refere só a musica, mas a um estilo de vida que engloba música, moda, comportamento, mito e lugar”.

Mas de onde surge tanta estigmatização? Os estereótipos cansam demais. As “modinhas” são clichês e surgem em uma sociedade que, teoricamente, é plural, onde as culturas divergem e, ao mesmo tempo, fundem-se. Então, questiona-se sobre os preconceitos, que diante dessas “modinhas” tornam-se, cada vez mais, evidentes e mesquinhos, quando a maior preocupação é o porquê buscar certos modelos de vestimenta, estilos, gostos, que a princípio não são nada originais, nem criativos.

Seria dogmático falar em criatividade, que é uma idéia ampla, dependente da individualidade de cada indivíduo, por isso não amplifico a discussão, já que meu objetivo não é esse. O assunto pode ser visto de diversas maneiras sob diferentes aspectos, por isso o critério não é “detonar” um estilo ou discorrer sobre ele, mas sim mostrar como um exemplo rende pano pra manga, podendo servir de base para mais uma reflexão, contraditória, talvez.

O fato é que muita gente pode ter traços da personalidade qualificadas como características que referenciam os indies (não sei por quem e nem por quê), mas nem por isso serem “indies”, é compreensível?! Afinal, já afirmava o jamaicano Stuart Hall, como a identidade de cada um é fragmentada.

No entanto, percebe-se na mídia uma influência contrária a fragmentação. Por exemplo, a abordagem simplista sobre os “indies” feita pelo jornal Folha de S. Paulo, que sugere, pelo menos a mim quando li, uma tipificação dos indivíduos. Quer dizer que agora há passos básicos para se transformar em algo pré-determinado de maneira a se inserir e adequar-se em grupos na sociedade. É, realmente, uma forma de adequação? Não sei. São outros devaneios que vão longe, bem longe.

Logo, não sei o que pensar sobre essas questões. O quanto a estigmatização pode ser grotesca, porém, ao mesmo tempo, o quanto ela se espalha e se torna aceitável entre as pessoas.
Caramba! Para quê tanta luta e discussão sobre a preservação das diferenças? Parece tão mais fácil concordar com uma serialização, tão mais cômodo amplificar um conceito e deixá-lo tão efêmero...Aí começa outra viagem.

Para finalizar, a questão não é se ser indie é bom ou ruim. Na verdade, os indies são um exemplo do que está acontecendo com a repercussão das “modinhas” através da deturpação de certos conceitos, palavras, durante as últimas décadas, pelas pessoas, pelos veículos midiáticos, enfim.
A crítica às “modinhas” (e isso não é pejorativo) é baseada na esperança de um estímulo para uma influência consciente dessa gama de “novidades” que ascendem, e não uma mera injeção da contemporaneidade, que se prolifera como um vírus e vicia como uma droga.
“Confrontar é sempre mais eficiente”, já dizia Nilson Lage, em seu livro “O Texto da Reportagem”. Sem mais.

Um comentário:

S disse...

Gostei do tema,realmente esta é uma questão muito ampla que renderia muitas análises sobre moda, consumo e ideologia. É também uma questão que parece conviver com os homens desde o século passado, e ainda hoje se mantém forte devido à falta de conclusões satisfatórias.

Grande parte desta estigmatização acontece pelos próprios adeptos destes "estilos de vida", mais até do que pel mídia. É claro é impossível que um aja independentemente do outro.

Em uma prateleira há uma imensidade de produtos, por consequência os compradores possuem inúmeras opções de compra. Alguns buscam o "direfente" para afirmarem uma personalidade distinguindo-se da "massa". Eis a discussão da crise da identidade cultural proposta por Hall.
Mas além da necessidade de firmar uma identidade, existe a necessidade de integração social. Assim, quando uma pessoa vê outra "comprando" um produto (lê-se, escolhendo um estilo de vida que determina e caracteriza sua personalidade)"curioso", ela vai atrás do mesmo produto, pois assim além de fugir da "maioria" se integra com indivíduos que compartilham dos seus pontos de vista (pontos de vista: ser diferente do todo, ter uma personalidade). Desde modo, estes que buscam a diferenciação acabam montando uma nova massa que logo terá de ser substituída.

Enfim, como já dito, está é uma questão ampla que renderá discussões por muito tempo. Legal a iniciativa ousada de suscitar a discussão.

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