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14 de fevereiro de 2009

Por Dentro da Band – Fatos inusitados (Parte5/5)

Olá visitantes do H&R. Nas últimas cinco semanas vocês tiveram a oportunidade de saber mais sobre o funcionamento de algumas coisas num canal de Televisão. Talvez por causa do processo ser explicado muito resumidamente, possa parecer até fácil fazer uma matéria para TV, porém percebi na prática que tudo vai além de simplesmente um processo técnico. É preciso agilidade, simpatia e um pouco de sorte. Por outro lado, também descobri que dá para se divertir muito enquanto procuramos informar as pessoas. É sobre esses fatos que escrevo hoje na última parte de Por Dentro da Band.

Uma das partes mais divertidas do processo de reportagem é o da pesquisa vox populi, ou seja, quando o repórter entrevista o público sobre um determinado assunto. A pauta do dia era sobre a temperatura da água, que estava muito fria em Torres. Para isso nada melhor do que escutar o que o povo tem a dizer. O único problema era que nem o povo sabia direito o que dizer. Quando chegamos à beira-mar, a primeira coisa que percebi era que éramos observados por todos. Muitos fogem das câmeras, mas muitos até oferecem suborno para aparecer, como por exemplo uma vendedora de pastel que me falou o seguinte:
Vendedora: - Meu filho, eu te dou um pastel se vocês me fotografarem (é isso mesmo que ela disse). Eu queria tanto aparecer na TV.
Eu: - Mas senhora, eu só estou observando o trabalho deles. De qualquer forma, se quiser me dar o pastel...
V: - Ah, não dá. É com ele que eu ganho o pão de cada dia.


Fernanda Farias saía atacando os banhistas em busca de depoimento que confirmasse que a água realmente estava fria. A primeira foi uma argentina:
Fernanda: - Olha Onildo (cinegrafista). Aquela senhora que está saindo toda encolhida do mar. Ela parece estar com frio. Vamos lá.
F: - Olá. Eu quero fazer uma pergunta para a senhora. Diga-me como está a água do mar.
Argentina: - (vou tentar colocar as palavras com sotaque) Ehstá marabilhossa. Perfecta.
F: - Mas a senhora não achou a água muito gelada?
A: - No, no. La Água ehstá muy limpia.
F: - Mas não está fria?
A nossa hermana dá um sorriso e faz um não com a cabeça. Seria ela da Patagônia?

Depois da primeira entrevistada, a repórter escutou diversas definições de como estava o mar. Entre elas, a melhor foi de uma senhora de meia-idade ( para ser bonzinho). Ela adorou dar o seu parecer sobre as condições da água:
Fernanda: - Olá tudo bem. Estamos gravando uma reportagem sobre as condições de banho. A senhora poderia dizer como está a água do mar?
Senhora: - Ah, eu nem tomei banho esse ano. Falaram que a água do mar está gelada, então eu preferi ficar aqui na areia conversando e tomando sol. E tem outra coisa: Eu tenho um problema de bexiga. É só eu entrar na água que...
F: - Muito obrigada senhora.

Bem, se estivesse no ar ao vivo, seria bem interessante aquela senhora falando dos problemas de saúde dela (com certeza iria para o Youtube), mas tudo foi cortado pela edição. De qualquer forma, o troféu de “melhor entrevistado do dia” não foi nem para a argentina, nem para a senhora com problemas na bexiga.

Para finalizar a reportagem sobre a água fria, a equipe de reportagem necessitava de um depoimento de um pescador comprovando que a temperatura da água estava atrapalhando a pesca do cação. Para isso, fomos até uma peixaria que ficava bem perto da divisa do Rio Grande do Sul com Santa Catarina. Eis que começou a novela:
Fernanda: - Boa tarde. Nós somos da TV Bandeirantes e estamos fazendo uma reportagem sobre a água fria no mar. Ela atrapalha a pesca do cação, não é? Me diga tem cação para vender?
Vendedor: - É cação não tem mesmo.
Aquele era o local e a situação perfeita para completar a matéria. O problema é que a partir daquele instante as coisas começaram a conspirar contra. Entre o balcão e o local onde ficavam os fregueses não havia espaço para passar. De qualquer forma, a repórter pediu para o vendedor ir para a parte de frente da peixaria. As duas formas de ele ir para a parte da frente eram dando a volta por fora da peixaria ou pulando o balcão. Ele disse que não dava. Fernanda insistiu e o pescador começou a caminhar com uma cara de bravo. Detalhe: ele tinha um problema na perna. Então até eu fiz uma intervenção:
Eu: - Fernanda, o cara tem problema na perna.
Fernanda: - Ei senhor, pode ficar por ai mesmo. A gente grava desse jeito.

A Câmera é ligada e começa a gravação.
F: - O que tem de peixe para vender?
Vendedor: - Tem tainha, corvina, camarão...
F: - E cação?
V: - Cação não tem...
F: - E se tivesse quanto que venderia por dia?
V: - (pensando muito) Ahhhh... Uns 100 quilos.
F: - Podemos gravar de novo esse final? Se tivesse cação, quanto venderia por dia?
V: - Uns 100 reais...
F: - 100 reais ou 100 quilos?
V: - Isso, isso. 100 quilos.
F: - Então, quanto que venderia de cação por dia
V: - É isso aí que eu acabei de te dizer...

Nesse instante eu até saí da peixaria porque quase tive um ataque de riso com tamanha “vontade” do pescador. Senão bastasse tudo isso, a repórter ainda pediu um último favor ao no amigo comerciante.
Fernanda: - Tem como a gente gravar umas imagens do senhor arrumando os peixes do freezer?
Vendedor, já com uma cara de irritado: - Mas já está tudo arrumado.
Fernanda: - Mas é só para colocar na reportagem. Por favor.

Bem, o pescador fez o que a repórter pediu, mas a cara dele estava tão feia, que eu creio que devem ter cortado essa imagem. Eu adoraria ter essas gravações para mostrar para vocês aqui do H&R, mas provavelmente essas imagens devem ter sido queimadas.

Um dia depois da gravação da reportagem, acabei encontrando a senhora que tinha problemas de bexiga. Ela me reclamou que não havia aparecido na TV. Dei uma passada na peixaria do nosso amigo vendedor, mas nem toquei no assunto. De qualquer forma ele não parecia ter um olhar muito amigável comigo. Quanto a vendedora, talvez eu a tenha encontrado, mas acho que ela não falaria comigo e a argentina... deve ter achado a água do mar tão boa, que a essa altura já deve ter voltado para sua cidade.

Essa experiência com a TV Bandeirantes foi muito interessante para mim. Aconselho todos os estudantes de comunicação a tentar conhecer o meio jornalístico das mais diversas formas, pois vale a pena. Agradeço a toda equipe da TV Band-RS, o coordenador de jornalismo Fábio Canatta, que me concedeu uma entrevista e a autorização para acompanhar a equipe, a Fernanda Farias, que me aturou por um dia inteiro, o Carlos Totti, que me explicou sobre a casa de verão da Band, o cinegrafista Onildo e o técnico Cristiano, além do repórter Luiz Gustavo Bordin que me apresentou toda a equipe. Termino a série com uma frase do próprio Bordin, que resume a prática jornalistística em si: “Quem é inteligente faz medicina, quem é louco faz jornalismo”. É verdade, tem que gostar mesmo. YOSHI!

So small it could almost be a miniature elephant

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