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15 de novembro de 2008

Análise do documentário “Ônibus 174”

12 de Junho de 2000, Sandro do Nascimento de 23 anos, seqüestra um ônibus da linha 174 no Jardim botânico, bairro do Rio de Janeiro. Ele mantém 11 pessoas reféns durante duas horas e meia. No final do seqüestro, policiais atiram em Geisa Firmo Gonçalves e logo depois asfixiam Sandro no camburão. Todo o seqüestro foi transmitido em rede nacional por televisões e rádios e o caso teve repercussão no mundo todo.

Ônibus 174” explica esse acontecimento com uma ótica diferente do que foi mostrado na época. O documentário mostra depoimentos de policiais, reféns, presos, conhecidos de Sandro e outros personagens que ajudaram a explicar porque tudo aconteceu e porque o caso teve o desfecho trágico. Até o lançamento do documentário a história da vida de Sandro era um mistério. No filme foi revelado que ele perdeu a mãe aos 6 anos (assassinada em sua presença) e foi morar na rua. Sandro foi um dos sobreviventes da chacina da Candelária de 1993.


A vida do “protagonista” sempre foi muito dura. Sandro não tinha outra escolha além da vida do crime. Sempre descrito como um garoto tímido, ele teve que aprender a sobreviver na rua, a roubar e usar drogas (Cola de sapateiro, Maconha, Cocaína). Após a chacina da Candelária ele passou a fazer capoeira, mas a essa altura o vício já o dominava e para sustentá-lo, Sandro roubava no sinal. Ele foi levado várias vezes para a prisão, mas nunca havia cometido um assassinato. As fichas de antecedentes descreviam Sandro como um rapaz quieto e de bom comportamento nas instituições para menores.

“O menino de rua sempre passa invisível diante os olhos da sociedade, seja por considerá-lo insignificante ou por não se querer ajudar”, era o que a socióloga Yvonne Bezerra de Melo dizia. A participação da imprensa no dia do seqüestro pode ter mudado o desfecho da situação. A polícia não se preocupou em isolar a área da imprensa, que se aproximava cada vez mais do ônibus. Sandro era percebido pela primeira vez por alguém. Uma senhora que hospedou Sandro em sua casa disse que um dos principais sonhos dele era aparecer na TV: “Nem que eu não possa me assistir, mas a senhora vai me assistir”, dizia Sandro para essa senhora. Sandro, tal como Lindenberg e a família Nardoni, acabou se sentido um super astro e agiu de forma diferente de como agiria. Ele estava nervoso com tanta atenção e ao mesmo tempo sentia segurança com a presença das câmeras de TV.

A mídia também mudou as ações da polícia. Segundo o chefe de negociações Coronel Penteado, existia a possibilidade de um Snipper dar um tiro em Sandro à distância e acabar com o seqüestro, mas 500 gramas de massa encefálica se despedaçando no vidro do ônibus não seria uma cena agradável de mostrar ao vivo. Ordens da alta cúpula do estado do Rio de Janeiro para não atirar em Sandro surgiram.

A visão das reféns também é mostrada no filme. A relação de Sandro com os reféns estava virando um jogo de confiança que a vitória resultaria em liberdade. Sandro liberou o único homem que estava lá por ele ser estudante universitário. Damiana conquistou a liberdade após ter um derrame. As estudantes Janaína Neves e Luanna Belmon conquistaram a confiança de Sandro conversando com ele, o que pode ter garantindo a sobrevivência delas. “Sandro não era bandido de verdade, senão ele teria me matado”, diz Janaína. “Eu falei para ele enquanto colocava uma correntinha de Nossa Senhora nele, que ele era a maior vítima de tudo”, fala Luanna. Geisa não conquistou a confiança de Sandro, pois havia mentido para ele que tinha um irmão presidiário, talvez por esse motivo ela tenha sido escolhida para ser “escudo humano”.

Policiais, bandidos e pessoas que conviviam com Sandro na rua deram depoimentos. A conclusão de tudo é que a polícia mostrou sua fragilidade e que Sandro não era um “bandido profissional”. “Bandido tem que matar se não derem o dinheiro, tem que tacar fogo. Eu já teria matado um logo de cara para impor respeito”, disse um “profissional da área”. Para os policiais ficou a sensação que faltou um bom equipamento de comunicação, treinamento e que o governo do estado e a imprensa influenciaram no desfecho. Para os ex-colegas de Sandro, o rapaz teve o desfecho da maioria, mas isso não muda a situação.

Em suma, Ônibus 174 mostra o lado humano de uma pessoa que a mídia pintou como um monstro, a fragilidade de policiais esforçados e despreparados, uma imprensa sensacionalista e deixa a sensação que vivemos em constante insegurança. O filme é chocante, pois nas cenas o desespero das pessoas é latente e cena da morte de Geísa é muito forte. Quando Sandro sai do ônibus a população tentou linchá-lo. As pessoas o queriam morto e a polícia atendeu o desejo do povo no camburão. “A polícia executa o serviço sujo que a sociedade não admite, mas quer ver: O de eliminar “Sandros” para que as pessoas vivam em segurança”. Filme para repensar muitos conceitos.


PS: O filme no qual eu me refiro é o documentário "Ônibus 174" e não o "Última parada 174", lançado esse ano nos cinemas. Diponibilizo para vocês o Download do Ônibus 174. Esse texto foi feito para um trabalho de Sociologia da Comunicação para a Universidade Estadual de Ponta Grossa. YOSHI!


5 comentários:

Anônimo disse...

Oi, gostaria da parceria sim, desculpe pela demora. Me envie outro comentário para me saber como será a parceria.

http://televisao.brogui.com

Obrigado pela atenção.

Anônimo disse...

Eu assisti esse documentário e achei muito bom. O Padilha fez um grande trabalho ao trazer a público a história de vida do sequestrador. Mostrou que ele também era um ser humano, apesar da besteira que fez.

Unknown disse...

Olá Yoshi!

Recebi o seu comentário no Blog do Animapoint.

Estou interessado em troca de links.

Um abraço.

Luisa disse...

Que eu saiba o nome é Ultima Parada 174....
Beijoes
Lulu

Edgard Matsuki disse...

Guilherme...obrigado pela colaboração...abraços

Lulu...o filme a que eu me refiro é o "Ônibus 174", lançado em 2002 por José Padilha e não o "Última parada 174" que é dirigido pelo Bruno Barreto e é o representante brasileiro para indicação ao Oscar.
Bjos. YOSHI!

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