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19 de dezembro de 2008

A última casa de ópio - resenha

"Meia cebola assada coberta com um pouco de caviar; um belo prato tipicamente italiano. Uma das muitas belezas do adorado Velho Mundo. Para provar esse pedacinho da Itália basta abrir mão de 35 dolares, algo em torno de 80 reais. Vale lembrar que a cebola é de Walla Walla, "cidade americana conhecida por suas cebolas com baixo teor de enxofre, mais doces do que as comuns"(pág. 11)

É com a descrição de um refinado restaurante nova-iorquino que Nick Tosches inicia sua obra. Como você pode encontrar ao digitar no google "A última casa de ópio", o autor começa sua reportagem em Nova York e vai até os confins da Ásia em busca de ópio. Durante o percurso, desenvolve-se a mística história cultural desta droga, de Homero a De Quincey.

Mas vamos ao que interessa, a relação da cebola, digo, da metade de cebola com o ópio.

O ponto-chave do texto é a crítica ao comportamento ocidental contemporâneo, a uma sociedade sustentada por mitos, baseada na imagem do ser. Aliás, o quê faz uma cebola comprada por 1 dolar em Walla Walla, mais alguns centavos de caviar, custar 35 dolares senão a elegância da comida européia?

O ópio aparece como contraponto a este "pseudoconhecimento" (como o autor o chama). Não há mitificação no ópio, neste, o processo de produção é lento, suave e puro.

Outro lado da crítica à contemporaneidade é apresentado na própria viagem aos confins asiáticos. Uma busca intensa, porém de leitura agradável, que demonstra a quase extinção de um costume milenar em decorrência de uma sociedade volátil.

Contudo, se o ópio é uma droga tão viciante, por quê está quase extinta no "narco-mercado"? Simples; ao contrário das drogas atuais, o ópio não é fugaz. Da produção ao consumo, como já dito, a técnica exige paciência, é lenta e sábia. É mais fácil e mais barato transformar a papoula - flor matéria-prima do ópio - em heroína, uma droga tão efêmera quanto a nossa sociedade.

Enfim, o ópio não condiz com a realidade de hoje. Não tem a ver com: "Sexo, Glamour e Balas" (Entenda bala no sentido mais atual e usual, não no sentido oriundo de Ian Fleming).

Muito mais do que apenas uma nostálgica apologia à tradição milenar das "Lágrimas de Afrodite", A última casa de ópio é uma crítica social.

"Evangelho de Tomé: 'Se trazes à tona o que está dentro de ti, o que trazes à tona te salva. Se não trazes à tona o que está dentro de ti, o que não trazes à tona de destrói.'" (pág.67). Agora copie o parágrafo e cole no orkut ou no MSN =P.

A última casa de ópio - Nick Tosches - [tradução: Michele de Aguiar Vertuli] - SP: Conrad Editora do Brasil, 2006

Um comentário:

Fer Suguiama disse...

A pressa do futurismo acabou por afetar a popularidade do ópio, se é que este algum dia foi 'pop'... Fiquei curiosa sobre a obra.

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