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18 de abril de 2009

Entrevista: Pedro Sebastião Neto, estopim da CPI da Ronda

A CPI da Ronda investiga denúncias de irregularidades contra o prefeito de Ponta Grossa, Pedro Wosgrau na sua gestão 2005-2008. Ela foi instaurada depois que o jornalista Pedro Sebastião Neto criou um dossiê com denúncias contra o prefeito. Em sua primeira entrevista depois que a CPI foi instaurada, Pedro Sebastião Neto conta como surgiu o dossiê, sua opinião sobre CPI e o seu trabalho para reunir as denúncias contra o prefeito de Ponta Grossa.

Formado em jornalismo em 2006, Sebastião Neto tem desde então se dedicado aos dossiês “Coincidência” e “Ronda”, ambos com denúncias contra Wosgrau. “Detalhista a ponto de ser chato”, como ele mesmo se define, Sebastião Neto diz que seu envolvimento no caso não tem data para terminar: “Novidades acontecem. Se eu estivesse fora do circuito, as investigações não teriam tomado esse rumo”.


1) Como surgiu o dossiê Ronda e a iniciativa de investigar o prefeito Pedro Wosgrau Filho?
Pedro Sebastião Neto: Depois que me formei em 2006, comecei a trabalhar no dossiê “Coincidência”, também contra a administração Wosgrau. Em fevereiro de 2007, depois de participar do programa do João Barbiero, recebi diversos telefonemas. Entre essas ligações, uma me chamou muito a atenção. Era uma mulher que não quis se identificar, nem nunca descobri quem era. Ela pediu meu endereço e disse para eu confiar nela. Dois dias depois, chegava a minha casa um envelope com dois contratos da Prefeitura. Era o primeiro dos cinco envelopes que eu receberia.

2) Toda a sua investigação do dossiê Ronda foi fundamentada nesses documentos que você recebeu?
Sebastião Neto: Os documentos foram o início de tudo, mas usei outras ferramentas também. Uma das principais foi a do site do Tribunal de Contas do Estado do Paraná. É uma ferramenta que quase ninguém conhece. Através desse site, descobri os documentos da Madre Paulina e da Autarquia de Trânsito. Além dessas pesquisas, eu escutei funcionários e ex-funcionários da Prefeitura.

3) Quais foram os itens que mais chamaram sua atenção em toda a investigação?
Sebastião Neto: Entre tudo que investiguei, posso destacar alguns. Tecnicamente falando, o que mais me chamou a atenção foram os contratos com a empresa de advocacia Andreolli, que mostravam a diferença de valores entre dois contratos para a negociação de FGTS e PASEP. O primeiro contrato era no valor de R$ 924 mil, mais 5% do valor total negociado, enquanto o segundo custava apenas R$ 70 mil aos cofres públicos, sendo que os dois serviços eram bem parecidos. Mas, em termos de mídia, eu sabia que o caso da Madre Paulina chamava mais atenção, afinal tratava-se de dinheiro público gasto com festas juninas. O caso do empenho do pagamento de funcionários no ano de 2006, ou seja, a prática de pagar os funcionários e não declarar esses valores para não ultrapassar o limite anual não é permitida por lei. Isso sem falar dos documentos da Autarquia de Trânsito e do outro dossiê que eu fiz, o “Coincidência”.


4) Qual foi seu envolvimento nas últimas eleições?
Sebastião Neto: Tem uma coisa que quero que fique bem clara. Até 2000, eu era do PSDB e o único cargo público que ocupei foi o de chefe de gabinete na administração Jocelito Canto. Desde então, eu não tenho relação alguma com ele. Eu falo isso porque o que todos têm como primeira opinião é que tenho envolvimento com o Jocelito e por isso que eu fiz os dossiês contra o Wosgrau. Não participei das últimas eleições, apesar que Jocelito até me convidou para participar. Quando ele caiu vertiginosamente nas pesquisas, liguei para ele dar um apoio. Então a gente acabou almoçando junto e surgiu o convite para eu participar da campanha. Eu falei: “Jocelito, eu não quero me envolver mais em política”. Mas, acabei visitando o estúdio da TV Joce. Foi inclusive nesse dia que eu conheci o Paulo Tsalikis, que foi a pessoa que me mostrou o site do Tribunal de Contas.

5) Como foi a divulgação dos documentos na imprensa da cidade?
Sebastião Neto: Foi difícil. Antes de ser um veículo de comunicação, tratam-se de empresas. Salvo raríssimas exceções, a imprensa é comprometida com o executivo. Isso é comum em todas as cidades. Quando terminei o dossiê “Coincidência”, apresentei ao Eloir Rodrigues do Jornal da Manhã. Ele me pediu uma semana para pensar, mas no final desse período, disse que não iria publicar, pois estávamos em época pré-eleitoral. Tentei também divulgar na TV Record de Curitiba e na revista Fix. Não consegui emplacar o “Coincidência” em lugar algum. Acabei o encaminhando para o Ministério Público sem que saísse na imprensa. Quando terminei o dossiê Ronda, esperei as eleições terminarem. Procurei novamente o Eloir. Ele pediu novamente uma semana, mas dessa vez eu disse que lhe dava apenas três dias. No terceiro dia ele me procurou e disse que iria publicar. O Eloir sempre se mostrou um camarada muito acessível. Foi ele inclusive que batizou o dossiê da Ronda. Era segunda-feira e a matéria estava marcada para sair no domingo. Neste intervalo entreguei o dossiê no Ministério Público e acertei com o [Florisvaldo] de Paula, da TV Imagem, para publicar o dossiê. Apesar de todos os meus gastos, não recebi dinheiro algum para publicar o dossiê. No dia 30 de novembro de 2008, saiu a matéria no Jornal da Manhã e na TV Imagem. Imaginei que no dia seguinte iria acontecer um bochicho na imprensa, afinal a maioria das rádios fazem o gilette press [leitura das matérias dos jornais impressos nos programas de rádio]. Mas, para a minha surpresa, todas as rádios trataram o assunto muito superficialmente. O próprio Jocelito, além de ler o texto como se fosse uma nota, ainda chamou o controlador geral do município para defender o prefeito. E para piorar, todos estavam questionando o meu trabalho, devido o meu envolvimento com a administração Jocelito e por causa do episodio do Fantástico [programa de domingo da Rede Globo], desviando o foco do dossiê, que na época caiu rapidamente no esquecimento.

6) Antes da CPI, você entrou em contato com algum vereador?
Sebastião Neto: Não. Eu acho que o vereador Pascoal Adura agiu brilhantemente, colhendo as assinaturas dos vereadores para instaurar a CPI enquanto eles ainda estavam comemorando as vitórias nas eleições e antes do Pedro [Wosgrau] ter controle sobre alguns vereadores. Mas tudo o que o Dr. Pascoal fez foi baseado no que saiu na mídia.

7) Como você avalia o andamento da CPI da Ronda? Você tem acompanhado a CPI de perto?
Sebastião Neto: A CPI está no caminho certo, mas falta mídia. A mídia está dando mais ênfase para as outras, até porque atacar o executivo é mais complicado. A CPI da Ronda tem outro problema: O Dr. Pascoal está sozinho. Ele foi brilhante quando aproveitou um momento onde o prefeito ainda não tinha ascendência sobre os outros vereadores para protocolar a CPI. Ele é tido como louco por muitos, mas não tem acordo com ninguém. É uma pena que ele esteja sozinho.

8) Porque o Dr. Pascoal está sozinho?
Sebastião Neto: Todos os outros membros da CPI estão com o prefeito. O relator da CPI Edílson (Fogaça) é Wosgrau declarado. Participou até da campanha do prefeito. O Alessandro [Lozza Pereira de Moraes] nem se fala. Se o Pascoal não tomar as providências agora, o executivo vai tentar cada vez mais descaracterizar a CPI da Ronda. Vejo o vereador Fogaça falando em convocar ex-prefeito para explicar rombo de 4 milhões na Prefeitura. Isso é tentar tirar o foco do principal da CPI, que é investigar a administração Wosgrau. Se ocorreu rombo antes, Pedro Wosgrau foi omisso, negligente ou incompetente por não ter denunciado esse rombo para ninguém nos quatro anos de administração. Se o Pascoal conseguir manter o foco da CPI, mais gente será derrubada. Já caiu o secretário de Saúde e o próximo a cair será o presidente da Autarquia de Trânsito.

9) O que levou o senhor a fazer toda essa investigação dos dossiês?
Sebastião Neto: Primeiro foi uma motivação, depois virou uma obsessão. Em 2000, quando eu era chefe de Gabinete do prefeito Jocelito Canto, a oposição da época, entre eles o atual prefeito Pedro Wosgrau, queria atacar o Jocelito de qualquer forma. Para atacar o Jocelito me meteram no meio da história. O resultado é que eu fui tachado de criminoso em rede nacional. Depois do episódio do Fantástico, entrei em depressão, pois quando alguém ataca o seu caráter, a dor é terrível, muito pior que dor física e não passa de forma alguma. Eu disse para mim mesmo que daria a volta por cima e dei. Investigo o caso como jornalista. Não vou dizer que não quero que nada aconteça, mas não estou forçando nada. Ficou feliz porque, a partir do momento em que a CPI foi proposta e aceita, já consegui escrever o meu nome na história de Ponta Grossa.

10) O que mudou na sua vida com os dossiês e até quando você vai continuar com eles?
Sebastião Neto: Já recebi recados de terceiros, ameaças. Como eu não tenho rabo preso com ninguém, não tenho medo. Quando você entra em uma investigação assim, a coisa chega a ser cinematográfica. Às vezes você acha que está sendo seguido. Um carro que você nunca viu de repente estaciona sempre perto de sua casa. Meu telefone foi grampeado, não sei por quem, mas sei disso porque tenho um amigo que trabalha com telefones e sabe, através de um código, quando o telefone é grampeado. Em um caso como o Ronda, não há data para sair. Os dias passam e as novidades aparecem. Se eu não estivesse no circuito, as coisas não teriam tomado esse rumo, como por exemplo, as gravações que eu fiz no caso da autarquia. E tem mais: Em breve o Ministério Público vai entrar de sola com o dossiê “Coincidência”. Aí vão ser dois dossiês de denúncias contra o prefeito. Como eu já disse, os únicos problemas da CPI são a pressão do executivo sobre a mídia e os membros que querem desviar o foco das investigações. É lamentável que a imprensa não abrace esta causa, pois não é uma causa minha e sim do município inteiro. Os valores são muito mais substanciais que o rombo da câmara se considerarmos o caso Andreolli, Madre Paulina e da Autarquia. Eu vou até o fim com esta história.

Leia mais: CPI da Ronda já ouviu oito pessoas em um mês
Autor das denúncias contra Wosgrau depõe hoje na CPI da Ronda

O prazo legal da CPI termina do dia 30 de abril, mas ela deve ser renovada. YOSHI!

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