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29 de setembro de 2008

Crônica: O Falácio (Felipe de Souza)


Por trás de um grande homem sempre reside uma grande sombra, que o cerca esperando o dia em que ele hesite e perca a fé em si mesmo, para então derrubá-lo.

Posso me apresentar como um paladino da falácia e do escárnio. Trabalho naquilo que a todos é de conhecimento. Procuro nos deslizes e nas condutas das pessoas, fatos dos quais possa gerar um produto que tome a atenção do público em geral. A falácia e escárnio de que me refiro é tudo aquilo que aos olhos dos outros é o belo, acima dos narizes agudos e astutos, de quem se faz superior e preponderante.

Não tenho as pretensões de um iluminista, não há nada no progresso que me aponte a presença de Deus, porem não sou tão pouco Marxista. Não sou crédulo em certos regimes, alimentares, quem dirão sociais.

Não sigo este caminho por vingança ou por qualquer motivo nobre ou pobre de sentido. Também não o faço sozinho e há muito tempo procuro substitutos de meus cativos amigos, que por razões anatômicas não tem mais suas cabeças ligadas a seus corpos, por conta de uma nobre senhora cuja excentricidade lhe cai além de seu vestido. A nobre senhora de que falei ainda a pouco, nada possui de verdadeira nobreza. Apenas a chamo assim por hábito e costume educacional. Nessa senhora sobra o desprezo e uma indesejada companhia de súditos de lealdade duvidosa.

O que me faz refletir na verdade é que não há mais ninguém nesse mundo que tenha vontade e ou coragem de comprometer-se por inteiro numa campanha contra as injustiças que se abatem sobre os oprimidos. O mundo não é mais o mesmo, há tempos que venho tentando dizer isto às pessoas, porém minhas palavras não surtem efeito. Às vezes pareço um ser invisível aos olhos dos pedestres que interrogo. As pessoas andam nas ruas de cabeça baixa, sem olhar para os lados e quando as levanta, seu olhar está sempre fixo num horizonte que não me coloque na sua visão. Muitas vezes me interponho em seus caminhos, mas de nada adianta.

É um hábito estranho ficar por dias de pé pelas calçadas sem necessidade de abrigo ou de alimento, mas como disse não é com isso que me importo, o fato é que por vezes me vem um pensamento nefasto e incontrolável. Ele me faz sentir cansado desta existência que parece perder o sentido e nesse mesmo momento surge diante de mim alguém que não sei se é um amigo, não posso dizer se verdadeiramente o conheço e sempre quando o vejo esqueço-me de perguntar quem ele é.

Este homem de quem falo surge como do vácuo entre as pessoas na multidão. Desconfio que ele é um enviado da senhora vil e desonesta antes citada. Meu algoz me convida para partir e deixar meu posto. Ele me diz que meu dever por estas bandas já está cumprido. E eu o respondo: quem sabe outro dia, então ele balança a cabeça num sentido reprovador e se vai.

Outro dia tive muito sono, coisa que não me ocorria há muito tempo. Andei até uma casa, uma espécie de pensão na qual entrei sem bater na porta. Minha educação se deteriorou na mesma medida em que o sono avançou. Lá não havia tranca nem alguém que me impedisse de entrar.

Encontrei um canto onde me acomodei e dormi pesadamente por dias a fio. Quando acordei senti que já havia estado naquele lugar mais vezes e parecia que suas paredes, escombros e o papel de parede rasgado queriam me dizer algo que não fazia idéia.

Após sair da casa olhei para trás e vi um carro de policia estacionado bem em frente dela e duas crianças que apontavam para o seu interior. Tive vontade de voltar e olhar o que ocorria, mas não dei real importância, afinal eram apenas crianças, dei de ombros e sai. Terei cuidado para nunca mais dormir em lugar tão imundo, se é que necessitarei dormir novamente!

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