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16 de novembro de 2009

Texto apreciativo: chatô o rei do Brasil

Se o leitor fosse se basear apenas pelo título do livro, poderia imaginar que “chatô: o rei do Brasil” é uma obra que exalta toda a trajetória de Assis Chateubriant, considerado em muitas eleições o “jornalista do século” no Brasil e tido por muitos como o pai da televisão no Brasil. Chatô (seu apelido carinhoso) construiu um império gigantesco, com diversas cadeias de jornais, rádios, retransmissoras de televisão, sem contar as empresas que não eram vinculadas ao ramo das comunicações.

Todavia, se vê no livro de Fernando Morais(um dos escritores e jornalistas de maior renome no Brasil) um lado dele que passa longe de toda imponência nobre que o título da obra poderia sugerir apresentar, e o que acaba sendo mostrado claramente em todo o livro são os meandros e subterfúgios, quase sempre sem ética alguma utilizada por esse paraibano de Umbuzeiro. Chatô teve papel importantíssimo na história, não só da comunicação como mesmo a de nosso país e pela sua biografia pode-se ter um parâmetro dessa importância.

O livro inicia-se com um delírio de chatô, o que era uma exigência dele mesmo para a autorização de sua biografia. Tal delírio aconteceu quando lhe ocorreu o problema de trombose, que acabou o limitando de muitas funções após isto e o traumatizando. Logo após este inicio obrigatório, o autor retrocede no tempo e mostra sua infância em Pernambuco, mostrando na sua infância um lado humano e até cômico de Chatô: Relatando sobre seu problema de gagueira, o que o perseguiu por grande fase dessa vida.

A parte da infância é relatada rapidamente e logo o livro começa a mostrar um lado de Assis Chateaubriand que ficou mais conhecido, o lado polêmico. A partir desta parte da biografia, Morais começa a descrever um homem que não perdia a oportunidade de entrar em uma briga, se soubesse que sairia com algum benefício dela, atitude que o ajudou a ganhar notoriedade estadual, Apesar de Chatô ter ficado com uma imagem negativa, após o episódio das eleições pernambucanas. Tanto é destacada essa veia polêmica do jornalista, que sua notoriedade nacional é alcançada graças a uma disputa judicial ferrenha em um concurso da faculdade de direito de Pernambuco( concurso no qual Chatô era genro de uma das pessoas da banca), o que força nosso “herói” a ir para o Rio de Janeiro buscar apoio político e conseqüentemente acaba conquistando muitas amizades poderosas.

“Amigos” e inimigos foi o que Chatô mais colecionou em toda a sua vida, além das mulheres, é claro. Sempre que necessitava de apoio financeiro, ele recorria a “colaboradores” que, talvez por medo de ter um novo inimigo poderoso, quase em todas as oportunidades o ajudavam. Dessa forma que ele adquiriu o seu primeiro jornal nos Diários associados e mais tarde um dos maiores de seus legados remanescentes até hoje, o museu do MASP. No livro sempre foi deixado bem claro que “o rei do Brasil” sempre tinha o domínio nessas relações de “amizade”.

Quanto aos inimigos, também foram inúmeros, Arthur Bernardes, no qual Chatô fez ferrenha oposição; Oscar Flues, que fora literalmente castrado por Amâncio( figura muito citada na obra, era capanga de Chateaubriand); Corita e Clito Bockel, ex-mulher e o amante dela, que tiveram grandes disputas jurídicas pela posse da filha do casal, que acabou até em tiros e uma em resolução polêmica que causou inclusive mudança na constituição do país, apenas para satisfazer o ego do poderoso Chatô.

E tinha Getúlio Vargas, com quem Chatô tinha uma relação de amor e ódio; Assis Chateaubriand ajudou Vargas a derrubar a política do café-com-leite, inclusive ajudando na revolução de 30 no fronte de batalha (apesar de não ter pego em armas), mas depois assumiu uma posição oposicionista ao seu governo. Por causa disso Getúlio prendeu Chatô e o perseguiu politicamente, inclusive com tentativa de exílio, o que não diminuiu o ataque do jornalista a sua ditadura e contribuiu com sua deposição após a segunda guerra mundial. Mesmo quando o gaúcho voltou ao poder teve a oposição de Chatô. E o mais engraçado dessa relação é que pela descrição do livro nas conversas entre um e outro eles sempre mantinham uma relação educada, apesar de irônica, pois reconheciam o poder de quem estava na sua frente.

O livro também dá destaque ao lado mulherengo de Chatô. Segundo a obra, as mulheres sempre foram presença marcante na vida de Chatô, apesar de sua feiúra descrita no livro e de depois da trombose ficar incapacitado de manter relações sexuais normalmente. Durante toda a sua vida, ele teve 2 esposas e muitas namoradas, sem contar as moças no qual ele ia apenas “furunfar” (gíria criada por ele mesmo). Chatô adorava mulheres, sejam feias ou bonitas, recatadas ou prostitutas e mesmo depois de doente, ele só se sentiu melhor quando passou a se considerar “homem” novamente. O que ele não tinha era uma boa relação familiar, Chatô sempre foi um péssimo marido e um pai ausente.

Profissionalmente, grande parte da evolução da mídia se deve a esse barão das comunicações, comparado ao cidadão Kane (ou talvez a Al Capone); A revista “O cruzeiro” trouxe muitas evoluções gráficas e de impressão ao Brasil; Sem falar da TV Tupi, que foi a primeira emissora do país e necessitou de tecnologia impar ate então e por isso acabou se tornando um marco na comunicação do país. Assis Chateaubriand ainda seguiu a carreira política (com muitas manobras sujas) sendo senador e embaixador, até ter o problema de trombose que o deixou limitado em seus últimos anos de vida, mas não o impediu de continuar controlando seu império até a sua morte.

O livro de Fernando Morais apresenta diversas ações positivas, todavia também apresenta falhas, algo comum para uma biografia tão extensa. Primeiramente, o livro apresenta destaque talvez exagerado aos defeitos de Chatô, para quem lê o livro fica a impressão de que ele era um homem muito irritável, falso, mulherengo, preconceituoso e não tinha apego nenhum à família; Além disso, se mostra um jornalista sem ética alguma, que, apesar de empreendedor, nunca investia seu próprio dinheiro nas suas idéias, o que deixa no ar se ele tinha tantos defeitos e tão poucas qualidades. Outra pequena falha se deve a evolução da narração, pois se dá um grande detalhismo no começo da história e do meio para frente ela passa a impressão de ficar extremamente corrida, como se houvesse uma ânsia de acabar o livro e não “estourar” certo número de páginas.

Falhas a parte, Chatô: o rei do Brasil é um livro interessante e indispensável para quem quer saber em pouco mais da história da comunicação do Brasil e para quem quer saber como se vivia na primeira metade do século XX no nosso país, tudo sob a ótica de um rei, o rei do Brasil.

Resenha feita para a disciplina de História da Comunicação na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) em 2008

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