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16 de novembro de 2009

Depois de 100 anos de imigração, brasileiros vivem em sociedade à parte no Japão

Ao contrário dos japoneses no Brasil, os “Dekasseguis” ainda têm muito para conquistar no outro lado do mundo.

No último dia 18, fez 100 anos que os primeiros imigrantes japoneses chegaram ao Brasil. Nesse ano de centenário, está havendo muitas festividades em diversas regiões do nosso país, porém, muitos desses descendentes dos primeiros imigrantes sequer estão no Brasil para comemorar esta data. Há 20 anos, o fluxo migratório se inverteu e agora são os brasileiros que vão à terra do sol nascente para conseguir emprego e melhores condições de salário. Muitos se submetem a rotinas cansativas de trabalho, com jornadas de doze horas diárias em média, além de precisar enfrentar em alguns casos, grandes distâncias de casa até o trabalho, com percursos de até uma hora de viagem. Apesar de todos estes sacrifícios, o número de brasileiros em solo nipônico só aumenta a cada ano, hoje existem cerca de 300 mil brasileiros morando no Japão.

No final dos anos 80, o mercado tecnológico japonês estava em franca ascensão e necessitava de muita mão-de-obra, normalmente preenchida por trabalhadores vindos de países vizinhos que, na maioria das vezes, trabalhavam ilegalmente no país. Para tentar resolver esta questão, em 1990 o governo japonês regulamentou a lei de controle da imigração, que permitia descendentes de japoneses de até quarta geração permanecerem no Japão para realizar qualquer atividade de trabalho. Como o Brasil era o país que apresentava mais japoneses e descendentes no mundo, estava aberta uma nova oportunidade de trabalho para filhos e netos de japoneses. Nessa época, os brasileiros que foram para o Japão viviam em alojamentos e a comunicação com o Brasil se dava principalmente por cartas, pois as ligações telefônicas internacionais eram muito caras e a internet não era acessível como é hoje. O plano da maioria era trabalhar muito para ficar o menor tempo possível como imigrante. Porém, à medida que o tempo passou e a comunicação com o Brasil se tornou mais acessível, o número de “Dekasseguis” foi aumentando e o tempo médio do brasileiro morando na terra do sol nascente também aumentou.

Com a dura jornada de trabalho, convivência cada vez maior com os outros imigrantes e o aumento de estabelecimentos comerciais voltado para público brasileiro, como restaurantes, salões de beleza e mercados com produtos importados do Brasil, muitos imigrantes acabam não aprendendo japonês e formando uma sociedade à parte dentro do Japão. Segundo uma pesquisa da prefeitura de Hamamatsu (cidade com maior concentração de brasileiros no Japão), 70% dos latinos alegam ter chegado ao Japão sem saber falar nem as palavras mais básicas do idioma local. Andréia Hashimoto, 22 anos, que morou 2 anos e meio no Japão, diz que não há muito interesse de brasileiros e japoneses em fazerem amizades. “Pelo idioma ser tão diferente do nosso, fica mais fácil fazer amizades com os brasileiros; Além disto, os japoneses são muito fechados e desconfiados, isso dificulta muito fazer amigos nativos”. Nos fins de semana, brasileiros costumam se reunir entre si para realizar alguma atividade, “a gente fica muito sozinho, longe da família, o jeito é se apegar nos amigos. Organizamos churrascos, passeios ou mesmo nos reunimos no apartamento de alguém para falar das coisas da fábrica ou mesmo relembrar o que deixamos no Brasil”, fala Márcio Takahashi, 19 anos, há um ano trabalhando no Japão.

A maioria dos imigrantes brasileiros no Japão, apesar de não aprenderem falar a japonês, acabou criando vários neologismos, misturando palavras em japonês no meio das frases, mesmo falando entre brasileiros. “Não tem jeito, a gente escuta essas palavras o dia inteiro e acaba misturando mesmo. “Onegai”( que se significa por favor) é uma das palavras que eu sempre falo sem querer nas frases do meu dia-a-dia”, diz Fernando Itami, 24 anos. Outra característica que é bem interessante nos Dekasseguis é o poder de consumo que eles exercem no Japão. As casas dos brasileiros são muito pequenas, mas sempre muito confortáveis, com vários aparatos eletrônicos. A maioria dos brasileiros no Japão tem carros. Em muitas ocasiões, os imigrantes compram carros mesmo sem possuir carteira de motorista, o que causa muitos problemas com a justiça local e ajuda a aumentar o preconceito racial dos japoneses contra os brasileiros. Quando voltam ao Brasil, nota-se uma mudança de atitude destes ex-imigrantes. “Quando a gente volta do Japão, fica mais exigente, queremos bom atendimento nas lojas, não toleramos comprar produtos defeituosos e nem filas e no meu caso aprendi muito sobre a cultura japonesa, pois no Brasil não convivi muito com ela; Agradeço ao Japão por tudo isto, mas agora quero ficar no Brasil”, diz Hiroko Nagata, que morou 3 anos na terra do sol nascente.

Todo esse quadro lembra muito os problemas enfrentados por japoneses quando vieram ao Brasil. Eles sofreram com o racismo no início do século, trabalhavam demasiadamente e acabaram sendo tachados de criminosos na época da Segunda Guerra Mundial, mas conseguiram conquistar o seu espaço em nosso país e, depois de um século, estão inseridos em todos os setores da sociedade brasileira. Os brasileiros no Japão ainda estão conquistando esse espaço na sociedade japonesa. Épocas diferentes, problemas semelhantes. 
 
Reportagem publicada no jornal Diário dos Campos (Ponta Grossa - PR) em 2008

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