Nos últimos tempos, a violência das grandes e médias cidades toma conta de nossos (tele) jornais. São inúmeros casos de assaltos, roubos, tráfico e violência. O livro “O Abusado – O Dono do Morro Dona Marta”, escrito pelo jornalista Caco Barcellos em 2003, retrata essa realidade, presente principalmente nos morros e favelas. Mas ele conta essas histórias de um jeito que não aparece na grande mídia. Ele ultrapassa o que conhecemos como jornalismo convencional (que, na maioria das vezes, retrata as coisas de maneira muito simplistas) e usa de recursos do jornalismo investigativo e do jornalismo literário para deixar a história de vida mais comovente, cheia de detalhes e percepções.. Através de “causos” de moradores desses locais, Barcellos responde a seguinte pergunta: “Por que tantas pessoas entram para o tráfico?”
Dividido em três partes – Tempo de Viver, Tempo de Morrer e Adeus às Armas - o livro conta a história de Márcio Nepomuceno (o famoso Marcinho VP) e de toda a favela do Morro Santa Marta (RJ). A narrativa é apoiada sempre por dados históricos e entrevistas dando maior veracidade para a história - que vai muito além da favela Santa Marta. Esses dados, apesar de estarem bem espalhados durante todo o texto, algumas vezes tornam-se cansativos porque é preciso estar muito concentrado para absorver a quantidade de números e dados recolhidos por Barcellos.
Em “O Abusado”, as pessoas que moram em favelas são humanizadas, cada um tem o espaço para contar os motivos que fizeram com que fossem parar dentro do morro. Algo que, por exemplo, não se encontra na grande mídia (por conta do próprio agendamento temático da mesma). .Não há espaço para elas ou o que é pior: ninguém se importa ou quer saber a história dessas pessoas
Para contar escrever o livro, o jornalista usou , em vários casos, codinomes para preservar identidade de moradores do Morro ou de pessoas ligadas diretamente com o local Além disso, mantém a segurança dos mesmos – questão importante ao se falar em tráfico no Brasil.
O trabalho de apuração e de investigação foi longo – durou quatro anos – mas valeu a pena só pelo fato de fazer as pessoas refletirem sobre a situação atual da violência no país. Quem serão os verdadeiros culpados? O governo que simplesmente não dá nenhuma assistência à população ou os traficantes que sim, muitas vezes são violentos, mas tem a simpatia do povo pelo simples fatos de ajudarem as pessoas a ter uma vida melhor?
A presença de opinião no livro é bastante significativa, em especial na última parte. Esta funciona como um diário de bordo de bordo do tempo que ele passou acompanhando o dia – a – dia dos moradores da Santa Marta. E essa convivência foi tão importante para o jornalista, que antes mesmo de começar a contar a história de VP, Barcellos defende o seguinte: “A experiência [de fazer o livro] reforçou meu repúdio à cultura da punição perversa, contra quem já nasceu condenado a todas as formas de injustiça”.
Com certeza, Marcinho VP tornou-se apaixonante. Tudo porque Caco Barcellos foi abusado (tanto que o livro ganhou o Prêmio Jabuti 2004 na Categoria Reportagem e Biografia). Fazer a reflexão sobre a culpabilidade que o governo e a sociedade têm nessa reportagem é de extrema importância. Será que ainda ninguém parou para pensar nisso?
* Texto Escrito em 2007 e adaptado para este blog. Referências: BARCELLOS, Caco. O abusado – O Dono do Morro Dona Marta. Record. 2003. R$ 58.
* Texto Escrito em 2007 e adaptado para este blog. Referências: BARCELLOS, Caco. O abusado – O Dono do Morro Dona Marta. Record. 2003. R$ 58.
Um comentário:
Apesar de não gostar muito da figura do caco, o livro deve ser bom sim. parabéns pelo seu espaço aqui. Passarei mais vezes por aqui.
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