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8 de julho de 2010

Portões, lacunas e catracas – Uma homenagem ao meu pai

É com tristeza que interrompo o especial da Copa do Mundo para prestar uma homenagem ao meu pai. Ele se foi no último dia 7 de julho, mas não quero relembrar os últimos dias e o sofrimento que ele, a família e os amigos passaram. Vou usar este espaço para relembrar alguns momentos em que passei com meu pai. Sim, abrimos uma exceção e voltamos à subjetividade no blog. Falarei para vocês de portões, lacunas e catracas.

O portão – Era março de 1991, em Viamão – RS. Não me lembro de muitas coisas daquela época, mas do portão nunca esqueci. Foi através do grande portão de casa (maior ainda para quem tinha 6 anos de idade) que vi meu pai saindo com uma mala na mão. Seu destino era o Japão. O objetivo conseguir dinheiro para a criação dos filhos e recuperar do baque do Plano Collor.

Não lembro se o beijei, abracei ou se sabia que ele não voltaria tão cedo. Só lembro do portão e da mão dele abanando. Não lembro se este momento durou muito, mas a imagem permaneceu na minha cabeça por quase dezessete anos. Esta época foi a lacuna.

A lacuna – O que era para se apenas três anos de Japão, se tornou muito mais. Ele foi para o Japão, ficou por lá e a cada dia que passava se afastávamos ainda mais. Os anos passaram, morei em muitos lugares, escolhi meu time de futebol (diferente do dele), estudei, trabalhei, namorei e cresci. O portão que era grande para mim se tornou pequeno. E me acostumei com a distância do pai.

No Japão, ele se aventurou como dekassegui. Trabalhou muito, sofreu com a rotina de trabalho e principalmente com a solidão. O pior de tudo era que nunca abriu este sofrimento para ninguém. Apenas pensava quieto no que sofria. Ele pensava muito. Com o passar dos anos, o cabelo se foi, alguns problema de saúde vieram. Algumas “famílias” também. Mas mesmo assim, tenho certeza que ele pensava no portão. Tudo isso até o dia da catraca.

A catraca – Anjõ, Aichi (Japão), 2007. A vida fez o meu destino ser igual ao do pai. Sem dinheiro e com a oportunidade de ganhar algo como dekassegui, fui para o Japão. Claro que o objetivo de achar ele também estava na minha mente. Mas não era fácil. O idioma, e o povo fechado do Japão dificultavam ainda mais o reencontro. E meus anos no Japão se passaram. Tanto que faltava menos de um mês para eu voltar para Brasil e nada de rever o pai.

Eu estava sofrendo no Japão. Estava sozinho e doente (tal como ele por muitas vezes). Até que descobri o paradeiro do meu pai. As minhas buscas de três anos foram recompensadas. O reencontro estava marcado. E quando o enxerguei apenas uma catraca nos separava. Passar aquela catraca foi tão fácil... Se na época do portão eu tivesse o mesmo poder, talvez as coisa fossem diferentes.

Mais uma imagem estava marcada na minha cabeça. Entre um portão e uma catraca foram dezesseis anos, mas parecia tão próximo. Finalmente tive meu pai de novo. E mais que isso, vi que além dos olhos puxados tínhamos muito mais em comum. Os casacos quadriculados, o jeito de caminhar e o vício em notícias são apenas algumas das coisas que trouxe do pai.

Ontem tudo acabou. Como no portão de 1991, ele deu tchau e eu não pude fazer nada. O que fica é o amor, o orgulho, as promessas feitas e a certeza de que nos encontraremos. Quando isso acontecer não haverá portões, catracas e muito menos lacunas. Vai em paz, meu pai. Saiba que sempre te amei.

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10 comentários:

Nataniel Zanferrari disse...

Vai em paz, seu Yoshio. E quando vocês se reencontrarem, meu amigo, com certeza não haverá mais nada os separando.
Um abraço, meu irmão de guerra.

Maria Marçal disse...

Eu não falarei de teu pai... vou aqui falar para meu amigo de internet que perdeu seu pai como eu há 14 anos.

Querido... Sinto orgulho de ler o que escrevestes passando apenas horas que ele se foi. Serenidade, respeito até me parece por alguém que pôs lacunas, catracas na vida de tua família.

Nobre vires falar dessa maneira.

Para mim te transformastes num homem adulto.

Isso é lindo de se constatar.

beijos de tua amiga,
Maria Marçal - Porto Alegre - RS

Guilherme Freitas disse...

Força nesse momento Yoshi. Meus sentimentos amigo. Abraço.

Edgard Matsuki disse...

Nathan. Muito obrigado pela força. Pode crer que continuaremos e venceremos as batalhas juntos. Conte comigo também. Abraço.

Maria e Guilherme. Mesmo sem conhecê-los pessoalmente, sei que estão sentindo por mim. Também agradeço o apoio nestes momentos difíceis. Abraços.

Rosana Madjarof disse...

Meus sinceros sentimentos.
Sei muito bem a dor de perder o pai, pois também já perdi o meu.
Fique bem.

Andy Pie disse...

Resumiu tudo com tanta poesia e sentimento... É o tipo de coisa que me dá um nó na garganta.

Anônimo disse...

Sinto um profundo orgulho de fazer pate de sua história amigo, e neste momento difícil e de grande pesar só consigo te dizer que todos aqui te amam muito e que podes contar com nosso apoio.

Meus sinceros sentimentos e um forte abraço!

Pri Kiguti disse...

Ed,
Suas palavras me emocionaram!
Muita força!
Grande abraço!

Fer Suguiama disse...

Esse texto me emocionou.
Belas palavras, Yoshi!

Força! Um beijo.

Cecília disse...

Meus mais sinceros sentimentos.
Bjos

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