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22 de novembro de 2009

Cinco luxos e um lixo

Qual foi a cidade mais interessante que você já morou? 
 
Para muitas pessoas essa é uma pergunta fácil de responder. Mas para mim não se trata de algo tão simples assim. Para os que não me conhecem deixe eu me apresentar: Meu nome é Edgard Matsuki, tenho 23 anos e vivi em muitos lugares. Quando eu era criança, grande parte das mudanças que minha família fazia era por causa da natureza cigana da minha mãe. Quando ela achava que um lugar não era interessante, juntávamos nossas coisas e “vida nova, lugar novo”.

Com o passar do tempo a vida de nômade acabou se tornando questão de sobrevivência para mim. Onde eu pudesse ganhar algum dinheiro, estudar, ou mesmo estar cercado de pessoas legais, eu estava indo. Se mudar virou um vício. Até agora já morei em 20 cidades (desconsiderei os lugares em que eu fiquei menos de três meses) e este número está prestes a aumentar.

Por causa dessa minha vida maluca fui convidado para escrever na revista de meu colega Nathan Zanferrari (que também escreve no H&R). Minha missão é destacar os cinco luxos e um lixo dos lugares no qual eu morei. Para fazer a análise, juntei três fatores: A cidade em si e sua infra-estrutura, as memórias que eu passei na cidade o contato que tenho até hoje com esses locais. Espero poder ajudar vocês a escolherem seu próximo destino.
 
1 - Torres(RS) – Brasil: O primeiro lugar não poderia ir para outra cidade que não fosse essa. Localizada na divisa do Rio Grande do Sul com Santa Catarina, a cidade de Torres é o que pode se chamar de paraíso. O clima não é tão frio quanto no interior do RS, a praia é belíssima (a foto fala por si só), o centro da cidade é muito próximo a praia (uma quadra) e as pessoas têm a típica tranqüilidade de moradores do litoral.
A cidade não é muito agitada em termos de festas (ao contrário da maioria das cidades litorâneas), mas com uma boa garrafa de vinho barato, praia paradisíaca e amigos, dá para se divertir bastante. Torres têm cerca de 40 mil habitantes no inverno. No verão este número costuma triplicar e movimentar o mercado da cidade, inclusive com turistas de outros países. O índice de violência é muito baixo e pode-se andar tranquilamente nas ruas e pela praia durante a madrugada (só não pode vacilar muito).
Essa dependência do verão talvez seja o ponto fraco da cidade, pois prejudica seu crescimento. Os políticos de Torres são como os de qualquer outra cidade: Medíocres. Não há aproveitamento das belezas naturais da cidade e nem divulgação delas para os próprios moradores. Faltam shows interessantes na cidade. Não há investimento em ensino superior, o que faz os jovens abandonar a cidade quando terminam o colegial.
Morei na “mais bela praia gaúcha” em dois períodos (1999-2002 e 2007), num total de 3 anos e um mês. Alguns dos meus melhores amigos moram em Torres e até hoje visito a cidade quando posso. Vivi minhas primeiras baladas (na época em que eu tinha um pouco de tolerância a alguns estilos de música), passei minha adolescência, me curei quando estava com ansiedade graças ao lugar e às pessoas (que estão no meu coração e não vou esquecer jamais, nem que tente). Exageradamente posso dizer que devo minha vida à essa cidade. Ah, e Torres ainda me ajudou a passar no vestibular, ler um livro na beira da praia é sensacional.
Se eu pudesse, investiria na educação da cidade e construiria uma Universidade de jornalismo (assim eu poderia morar lá, RS). Melhoraria a imprensa da cidade, (os quatro jornais são muito fracos, sem jornalistas formados) e tentaria movimentar a cidade no inverno (mas sem acabar com a natureza). Porém, por enquanto o que me resta fazer de vez em quando é fugir do estresse da cidade para contemplar à beleza da mais bela praia gaúcha, deitar na praia, subir nas pedras, respirar ar puro, rever pessoas queridas e voltar pronto parar enfrentar mais uma vez o mundo real. YOSHI!
 
2 – Gamagori (Aichi) – Japão – Guardada as devidas proporções, poderia afirmar que esta cidade de cerca de 80 mil habitantes é uma versão japonesa de Torres. Em termos de infra-estrutura uma versão melhorada da nossa primeira colocada. Como toda cidade japonesa, Gamagori tem ótimos shoppings, inclusive um que fica aberto por 24 horas e fica próximo a grandes centros como Nagoya e Hamamatsu.
Os dois apartamentos que eu morei em Gamagori mais se assemelhavam a um quarto de hotel quatro estrelas. A porta dos apartamentos era travada à cartão magnético (o sujeito se sente muito importante com isso). Fogão elétrico, máquina de lavar roupas embutida no apartamento, carpete, ar-condicionado, cama, armário, TV a cabo e Internet eram itens que existiam no apartamento. Na minha opinião, o melhor da casa era o Ofurô. É maravilhoso poder tomar um banho de ofurô, numa sexta-feira, depois de uma semana de trabalho.
Gamagori é uma praia, mas as pessoas não costumam banhar-se no verão em mar aberto (exceto os brasileiros, que gostam de uma praia chamada Kira, que eu não tive a oportunidade de visitar), um ótimo lugar para conhecer em Gamagori é o parque Laguna Gamagori. No verão são abertas as piscinas, ótimos para o clima que passa facilmente dos 35 graus nos dias mais quentes e no inverno são feitos espetáculos, normalmente com personagens da Disney, além do Countdown de fim de ano, que é o melhor da região, igualando-se ao que acontece em Nagoya. Existem três ilhas em Gamagori a foto que eu tirei é de uma delas. Esta ilha é ótima para relaxar e no meio dela existem um templo budista, no qual se pode fazer pedidos, agradecimentos e participar de rituais budistas, tudo no meio da natureza.
Eu morei em Gamagori por 6 meses, dividido em duas temporadas de 3 meses (em 2003 e 2005). A primeira foi quando eu cheguei ao Japão, mas em três meses tive que ir embora, pois havia perdido o meu emprego. A segunda foi muito peculiar. Foi quando eu comecei a morar com uma menina (Renata), que eu fiquei por dois anos junto. Calcule um apartamento legal como o que eu morei, junte uma cidade interessante, uma metrópole bem pertinho e um casal em lua-de-mel. Fomos demitidos em 2 meses. Talvez o principal defeito de Gamagori seja esse: A cidade é tão boa que não dá vontade de ir trabalhar. Por todo o período que eu morei no Japão, dava uma fugida para visitar Gamagori e matar a saudade de olhar para o mar.
 
3 – Tramandaí (RS) – Brasil – Mais uma cidade do litoral do Rio Grande do Sul na lista de luxo. Tramandaí é uma praia com inúmeros problemas estruturais, vive estagnada no inverno, no verão tem seu crescimento descontrolado (a população salta de 40 mil para 200 mil pessoas) e seus políticos conseguem ser abaixo da média (Veja o exemplo de Elói Brás Sessim, prefeito, dono da principal rádio da cidade e astro do Linha Direta). Mas não teria como eu tirar Tramandaí da minha lista.
A cidade teve a proeza de me agüentar por 7 anos e foi a cidade que eu mais tempo permaneci. Claro que isso foi em suaves prestações, de Janeiro de 1994 até Janeiro de 1999, de Janeiro de 2002 até Novembro de 2003 e de Agosto até Novembro em 2005. Nesse período, vivi uma infância muito legal, passei por uma adolescência com muitas festas (nesse quesito Tramandaí supera Torres) e ainda vivi um período de férias em 2005. Claro que em todo esse período, deixei muitos amigos na “capital das praias” (apelido de tramandaí). Tinha a galera do tempo em que eu jogava no glorioso Juventus F.C., a turma do futebol de botão e a galera do RPG, que virou minha turma de festas também e da banda Crypta (que apesar do nome tocava uns troço light). Além de quebrar o recorde de tempo de permanência, em Tramandaí quebrei o recorde de locais em que morei. Foram 14 casas no total.
Tramandaí tem como atração principal a Festa do Peixe. No tempo que eu morava lá era a época áurea das bandas de rock de Porto Alegre. Logo tive a oportunidade de ver shows de Cidadão Quem, Maria do Relento, Papas da língua, Acústicos e Valvulados, TNT e outros. As festas eram ótimas, mas graças a onda sertaneja, os shows do festival mudaram muito. No Tropical rock café sempre iam bandas interessantes, hoje a casa virou um local onde toca funk e sertanejo. Quando fui a última vez em Tramanda, a cidade estava muito mudada, o que me causou um pouco de decepção, mas mesmo assim “quando bate uma fissura, pego a Freeway e dou um banho lá no píer de Tramanda”.
 
4 – Anjõ (Aichi) – Japão – A cidade dos Anjos é a primeira cidade não litorânea da lista. Anjyou é mais uma bela cidade da região de Nagoya. Tem 165 mil habitantes e é a típica cidade média japonesa. A sobrevivência das cidade é praticamente baseada em fábricas que fazem peças para a montadora da Toyota, que fica na cidade vizinha...Toyota.
Não tão bela quanto Gamagori, anjo têm a vantagem de ser mais próximo a Nagoya do que a ilha. Trinta minutos de trem e você já está na metrópole regionel. De qualquer forma Anjõ tem muitos lugares interessantes para se divertir. Shoppings, MacDonalds em todas as esquinas, Games, Boliches e até casas de “massagem” (!) são encontradas aos montes na cidade e em cidades vizinha.
Uma similaridade da cidade é a quantidade de estações de trem que existe. Em Mikawa-anjo sai o trem-bala (shinkansen) para várias regiões do Japão. A viagem que demorava trinta minutos cai para 12, mas só porque o trem-bala da região é meio “lento”. Fora Mikawa-anjo, A cidade tem Shin-Anjo, Nishi-Anjo, Minami-anjo, Kita-Anjo e o escambau A-4- Anjo também deve ter (essa é para o Marcelo dar risada). Em termos de transportes Anjo é uma cidade abençoada.
Morei na cidade por apenas quatro meses (09/2007 – 01/2008) e tive tempo de conhecer a cidade direito, mas só o fato de ser vizinha de Gamagori já seria um prêmio. Em Anjo raramente neva (para parâmetros japoneses), apenas uns dez dias por ano e muitos brasileiros moram lá. Nas ruas é bem fácil encontrar pessoas falando em português e a cidade já se adaptou a isso. Existem escolas, mercados, concessionárias e trabalho para brasileiros.
O lado negativo da cidade seria o mesmo defeito da maioria das cidades do Japão: Tudo ocorre tão certinho que parece que não vivem pessoas na cidade e sim robôs. Outro problema são os empregos da região, que são alguns dos mais pesados sujos e perigosos do país. Eu trabalhei na frente de uma prensa com pressão de 100 toneladas na minha frente nos quatro meses que morei lá. Para agüentar isso, só com diversão e proteção dos anjos.
 
5- Ponta Grossa (PR) – Brasil – Universidade Estadual de Ponta Grossa, habilitação jornalismo. Esse é o motivo que não pode deixar Ponta Grossa fora da lista dos luxos. Não que eu morra de amores pela cidade que eu moro há 9 meses (desde 02/2008), mas não posso negar que a Universidade é muito boa.
Fora a Universidade, posso destacar a estrutura da cidade como um ponto positivo. Os 305 mil habitantes de Ponta Grossa têm a sua disposição uma cidade com natureza, cinema gratuito, feira livre e alguns shows interessantes. Ah, deixe eu corrigir uma informação, essas atrações interessantes são destinadas apenas a parcela mais elitista da cidade, que por sinal é a mais conservadora que eu já morei. Para os mais humildes eles dão sanduíches por uma moeda de quatro em quatro anos.
Não conheço a cidade o suficiente, mas posso destacar alguns pontos interessantes. Vila Velha é um local histórico e bem legal de se visitar, mas a visitação é totalmente controlada por guias e se é obrigatório a passar por um roteiro pré-definido e pago, claro. O Buraco do Padre também é um lugar interessante de se visitar, mas não existe transporte coletivo para a região, talvez porque no pensamento elitista da cidade, todos tenham carro.
A cidade é povoada por estudantes de muitas tribos, mas o grupo que domina a cidade são os Caubóis, sertanejos e simpatizantes (CSS). Shows de duplas sertanejas sempre lotam na cidade. Bom para quem gosta. Existe uma movimentação no movimento Rock, principalmente entre os acadêmicos da UEPG, mas roqueiros são minorias, tal como manos, pelo menos na região da universidade.
Ponta Grossa poderia ser muito melhor do que é, poderia ser até primeira em minha lista, se as pessoas colaborassem. Dar bom dia em PG é um risco. Você pode não receber resposta. Em Ponta Grossa o cliente nem sempre tem a razão, a não ser que ele seja um ponta-grossense (que acha que tem a razão), gerando uma discussão interminável. Na real, falta simpatia para o povo. Mas como tem universidade boa, a gente fica por aqui. Vai que PG melhora no Ranking (ou piora).

Lixo: Viamão (RS) – Brasil - Eu morei em Viamão quando era um moleque (01/1990 até 09/1993), mas me lembro bem que lá não era um lugar muito agradável de morar. Primeiramente o bairro que eu morava não era muito seguro. O motivo que fez a minha mãe vender a casa e ir embora foi que assassinaram um vizinho nosso no bar que ele trabalhava. E adivinha que tipo de estabelecimento nós tínhamos na época? Quem acertar ganha um Rabo de Galo.
Jogar futebol com o pessoal era bem legal e lá eu aprendi a ser um pouco “vileiro” também. A rua que eu morava não era asfaltada, acho que até hoje não tem pavimentação nela, mas não me arrisco a chegar no local 15 anos depois morar lá. Tinha muitos amigos, mas sinceramente acho que boa parte deles deve ter entrado no mercado que está em ascensão nas periferias do Brasil. Qual? Quem acertar ganha 20 gramas.
O único ponto positivo que eu vejo foi que nesses três anos que morei lá estava longe de ser um menino de apartamento, mas imagino como eu estaria hoje se fosse um dos 260 mil habitantes da cidade. Viamão tem muitos problemas. Não tem rodoviária na cidade, apesar do número de habitantes, muitos bairros convivem com esgoto ao céu aberto e a criminalidade assusta a todos.
Meu avô e muitos tios meus ainda moram lá, em um bairro que era um pouco pior que o meu. A maior diversão da área é o “jogo do osso”, onde muitas pessoas apostam de que lado o osso vai cair, quase sempre controlado por alguém armado. Pelo menos era assim até 1998, a última vez que eu morei lá. De todas as cidades que eu morei a que eu vejo menos solução, sem dúvida é Viamão, a cidade que fabrica o Mumu original.
Deixei de destacar algumas cidades que eu morei, mas na lista abaixo está o Ranking de tempo que permaneci em cada lugar. Tirem suas próprias conclusões: Visitem, só não esqueçam da prancha, das botas de neve, das palavras cruzadas ou do 38. YOSHI!

1 - São Paulo – 61 meses (1985-90)
2 - Viamão – 32 meses (1990-93)
3 - Porto Alegre – 2 meses (1993)
4 - São Sepé – 2 meses (1993-1994)
5 – Quintão – 2 meses (1994)
6 – Tramandaí – 82 meses (1994-1999, 2002-2003, 2005)
7 – Jacareí – 7 meses (1998 e 1999)
8 – Torres – 36 meses (1999-2002 e 2007)
9 – Nova Tramandaí – 7 meses (2002)
10 – Osório – 2 meses (2003 e 2008)
11 – Gamagori – 5 meses (2003-2004 e 2005)
12 – Toyohashi – 1 mês (2004)
13 – Nishio – 1 mês (2004)
14 – Kanazawa – 1 mês (2004)
15 – Takahama – 12 meses (2004-2005)
16 – Capão da Canoa – 1 mês (2005)
17 – Araçatuba – 3 meses (2005)
18 – Nagahama – 14 meses (2005-2007)
19 – Anjo – 4 meses (2007-2008)
20 – Ponta Grossa – 14 meses (2008, 2009)
21 – Passo de Torres – 2 meses (2008-2009)
Média de 14 meses e 10 dias em cada cidade. 

Texto escrito para o blog Histórias e Rankings em 2008

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