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23 de novembro de 2009

Por dentro da Band

A Estrutura da Casa de Verão

Inicia-se hoje uma série de reportagens no qual vocês poderão conhecer como funciona um canal de Televisão, suas etapas para o processo de produção e como pensam os profissionais que trabalham para transmitir informações para milhares de pessoas.

Através de alguns contatos, um pouco de sorte e receptividade, conseguimos vasculhar os bastidores da Rede Bandeirantes do Rio Grande do Sul, ou simplesmente Band-RS. Hoje mostrarei para vocês como é estrutura da Casa de Praia da Band em Torres.

Como no Litoral do Rio Grande do Sul nenhuma das grandes redes comunicação do estado (RBS, Record, Band e Pampa) tem filiados, no período de Verão é tradição no Rio Grande do Sul serem montados estúdios avançados para melhor transmitir as notícias do Litoral para Porto Alegre e para o resto do estado.

Há cinco anos a Band-RS tem a casa de verão na praia. O evento é o 2° maior em termos de faturamento (perde apenas para o Miss Rio Grande do Sul) e o maior em termos de tempo de utilização e tamanho estrutural. “O projeto começou em 2003, época da profissionalização na Band do estado. Começamos em Tramandaí, fomos para Xangri-lá e há 2 anos montamos a casa de verão em Torres”, afirma Carlos Totti, gerente de eventos do grupo e responsável pelo projeto em Torres.

Totti explica como acontece todo o planejamento e o processo de construção do estúdio. “A Band de São Paulo envia a filiada de Porto Alegre o valor total que deve ser gasto no projeto. Depois disso, a gerência e a diretoria da rede aprovam o que deve ser gasto em cada item. Muitas pessoas participam do processo. Enquanto o departamento comercial mostra o projeto em busca de apoio, o departamento de eventos faz a parte prática. Meu objetivo é entregar o projeto no tempo certo e com o menor gasto possível”, diz o gerente de eventos da Band.

Na casa de verão são geradas reportagens para TV e rádio. O jornal de Verão (de segunda a sexta-feira às 13:00 horas) e alguns programas da rádio Bandeirantes e da rádio Ipanema são transmitido diretamente do link no litoral. Em alguns Sábados do verão, o Band Cidade (principal telejornal da Band-RS) também está na cidade de Torres, com toda equipe de produção, repórteres e âncoras.

Na casa há um estúdio de Rádio e outro de TV, uma mini-redação, onde são planejadas e executadas as matérias e uma suíte máster. Suíte máster para quem não conhece é o local onde as imagens e áudios são geradas (enviadas) para Porto Alegre para serem editadas. Em média são feitas três reportagens por dia no Litoral gaúcho.


Entrevista: Fábio Canatta, coordenador de jornalismo da Band-RS

Casa de Verão da Band em Torres, 19:30 da noite. Os créditos do telejornal da emissora acabam de subir, sinalizando o final do Band Cidade. Um alívio toma conta do local, que está lotado, pois mais ou menos trinta pessoas, entre equipe de produção, jornalistas, locutores da rádio e convidados ocupam a pequena casa a beira-mar. O repórter Luiz Gustavo Bordin (que faz expedições para a Antártida, conta piadas em russo e é uma grande figura) me apresenta ao homem que coordena toda essa equipe.

Fábio Canatta tem 29 anos e em sete anos chegou ao cargo coordenador de jornalismo da TV Bandeirantes do Rio Grande do Sul. Muito solicito, Fábio me cumprimenta, mas já fala: “Não tenho muito tempo. Em meia hora você consegue as tuas informações?”. Combino com ele a minha saída com a equipe de reportagem, que aconteceria três dias depois e lhe faço algumas perguntas. Nessa mini-entrevista, Canatta fala sobre diploma, crise, trajetória e dá conselhos para quem quer seguir a carreira jornalística:

1) H&R - Olá Canatta. Fale um pouco sobre a sua trajetória no jornalismo e como você chegou até o cargo que ocupa hoje.
Fábio Canatta - Eu me formei em 2002 na Faculdade dos Meios de Comunicação (FAMECOS) da PUC de Porto Alegre. Mas antes disso, em 2001 eu comecei a estagiar na sucursal de Porto Alegre do Jornal Folha do Sul, que é de Caxias do sul - RS. Eu fazia parte da equipe de reportagem. Também trabalhei com a assessoria de imprensa da então prefeita de Alvorada (cidade da região metropolitana de Porto Alegre) e hoje Deputada Estadual Stela Farias. Ainda como estagiário, eu entrei para a Band-RS. Em 2002, depois que eu me formei, entrei como produtor da rádio e da TV. Dentro da TV, passei por todas as funções. Fui produtor, passei rapidamente pela reportagem, editor, chefe de reportagem, chefe de redação e hoje sou coordenador de jornalismo da TV.

2) Como é o cotidiano de um jornalista?
Bem, tem uma diferença do que eu faço e do que a reportagem faz. Eu tomo conta do controle editorial da TV. Sou responsável pelas pautas que a bandeirantes faz, pelos telejornais que a bandeirantes produz, pelas escalas da equipe, pelo planejamento de coberturas externas, como a casa de verão da Band, pelos programas que são feitos fora da band, relação com departamento comercial, coberturas especiais, algo mais administrativo. Na redação da Band-RS, trabalha-se para três programas: Toque de bola, programa de esportes que acontece as 12:30, o Lado a Lado, que hoje está fora do ar por causa do Jornal de Verão, que é feito de torres, as 13:00 e o nosso telejornal, o Band cidade, as 18:45.

3) Você acredita que a crise econômica afetou as empresas jornalísticas? De que forma?
Acho que afetou sim. A empresa jornalística é uma empresa como qualquer outra, no qual o produto é o jornalismo. Ela vende, compra, contrata e demite, como qualquer outra empresa. Talvez tenhamos sofrido um impacto menor nesse primeiro momento, devido não ter uma relação direta com o mercado externo, mas nos afetou sim. Afinal a crise afeta todas as empresas do Brasil, inclusive as empresas de comunicação.

4) Qual é a sua opinião sobre a questão da obrigatoriedade do diploma para exercício do jornalismo?
Eu não tenho uma opinião formada sobre a obrigatoriedade do diploma. Tem alguns pontos que eu sou favorável e outros eu sou contrário. Acho que é válida como proteção para a classe dos jornalistas, mas eu duvido que mesmo que seja derrubada a obrigatoriedade, as empresas deixem de exigir o diploma para contratar jornalistas.
H&R - Porque essa questão não entra na agenda dos grandes meios de comunicações?
Tu quer dizer por que esse não está em discussão na TV? Porque a gente acha que isso interessa a gente e não interessa as pessoas!

5) Qual é conselho que você dá para um estudante de jornalismo se preparar para o mercado de trabalho. 
Primeiramente, não cansar nunca. Jornalismo é muito trabalho, muito esforço. Antes de dominar qualquer técnica, antes de conhecer TV, rádio e jornal, tem que está bem informado. Informação é mais importante do que qualquer coisa. Tem que ler muito jornal, ler muita revista, ler muito livro. Ler é mais importante do que qualquer coisa para um estudante de jornalismo.  


Os bastidores de uma reportagem: A prática jornalística

Na terceira parte do nosso especial Por Dentro da Band, finalmente chegamos à parte prática do processo. Faço uma descrição cronológica (ou nem tanto) do cotidiano de um jornalista e dos processos que uma reportagem passa até chegar ao ar e ser assistida por milhares de pessoas. Acompanhei durante um dia a repórter Fernanda Farias na missão de fazer algumas reportagens para o Jornal de Verão, transmitido de Torres para todo Rio Grande do Sul.

10:05 – Chego ao estúdio de verão da Band. A manhã havia começado agitada para equipe de reportagem. Nessa hora eles já tinham feito uma matéria sobre um caminhão que tombou na BR-101, estavam partindo para uma segunda matéria e procurando um entrevistado para entrar no ar às 13 horas.

10:35 - Fernanda está a 20 minutos no telefone. Ela tenta contatar o entrevistado para o próximo jornal, mas nem tudo ocorre como o esperado. O entrevistado que ela precisava havia viajado. Isso me fez compreender a primeira das muitas coisas que aprenderia naquele dia: “Nada é como a gente espera, então sempre tenha uma pauta (matéria) reserva”.

10:40 – O segundo entrevistado que eles tinham na manga também havia viajado e não poderia vir. Eu reformulei o meu primeiro aprendizado: “Não tenha uma. Tenha várias pautas reservas. Os riscos são bem menores”. Farias finalmente deixou o telefone e saiu para a rua. Começaria então a parte “mais divertida do processo”.

10:45 - A matéria que eles cobririam naquele dia era referente a temperatura da água do mar em Torres, que estava 3 graus abaixo da temperatura do ano anterior e espantava os turistas do banho de mar. Fernanda e o cinegrafista Onildo vão para a beira da praia. A primeira parte gravada é a explicação de um especialista do porque a água estava tão fria. A conversa entre a repórter e o professor começa como um bate-papo informal. Com essa conversa a repórter se situa melhor sobre o assunto, a câmera é melhor enquadrada e o entrevistado fica um pouco menos nervoso. Começa a gravação. No total são feitas cerca de 15 perguntas, sendo que apenas uma ou duas falas serão aproveitadas. Na TV, filma-se muito e se aproveita pouco do que é gravado.

10:50 – Agora é hora de “atacar” os banhistas. Eles tinham que falar sobre a água do mar. Esse processo foi um dos mais engraçados, pois nem todos falam o que é esperado, alguns travam na frente das câmeras, outros querem falar demais, sem contar nos querem aparecer na TV a qualquer custo. Em 15 minutos, Fernanda ouve 10 das mais variadas definições de como está a água do mar e ainda conversa rapidamente com uma amiga (também jornalista) que ela encontra na praia. Onildo capta mais algumas imagens e nós voltamos para o estúdio.

11:20 – Fernanda começa a escrever os textos que serão apresentados entre as matérias (os drops) e os textos para o Off. Para quem não sabe, O Off aparece na parte da matéria que é mostrada uma paisagem ou alguma ação e é a voz do narrador (normalmente o próprio repórter) gravada em estúdio, que situa o telespectador no contexto da reportagem. Pode ser utilizada uma trilha sonora ao fundo. Nesse instante, eu deixo Fernanda escrevendo e vou até a Suíte Máster.

11:30 – Suíte Máster é o local onde as imagens captadas são geradas (enviadas) para a equipe de edição (no caso para Porto Alegre). Justamente é isso que Cristiano (ele achou melhor não dizer o sobrenome por motivos de segurança, RS) está fazendo. Ao mesmo tempo em que envia as imagens para serem editadas, também narra o que está acontecendo nelas, para certificar que a equipe de edição assiste a mesma cena que ele.

11:50 – Com todos os textos já escritos, Fernanda se prepara para gravar o Off no estúdio. O processo é muito rápido, ela tem que falar apenas cinco frases no microfone. A gravação acaba em menos de 1 minuto. Espanto-me com a voz dela na hora que grava. Perfeita. Mais tarde, eu perguntei o que ela fazia para manter a voz daquele jeito e ela me respondeu que achava a voz feia.

12:25 - Algo que eu notei (e comprovei na hora do Band Cidade) é que a medida que a hora de entrar ao ar chega, o nível de estresse aumenta em toda a equipe. É cobrado o envio de matérias, o telefone não para de tocar e gritos ecoam no estúdio de verão da Band. Cristiano checa e tenta consertar alguns problemas técnicos. Uns 100 metros de fio são desenrolados. O jornal de verão será apresentado à beira-mar mesmo e não do estúdio de verão.

12:40 – Enquanto Fernanda Farias faz a própria maquiagem para entrar no ar, Carlos Totti explica detalhes sobre a casa de verão da Band. Além do que está na primeira postagem do especial, Totti também fala do clima de descontração (que naquele momento não tinha muita) da casa de verão. Cobrir um evento como este é uma ocasião especial. Os repórteres chegam as 8 da manhã e ficam até as 8 da noite. Além da reportagem, fazem o trabalho de produção (que é de agendar matérias, entrevistas, etc.). Por outro lado Fernanda pode apresentar o jornal com uma camiseta (da emissora), shorts e havaianas, o que seria inadmissível em um estúdio.

13:00 – Já estamos na praia. O jornal de Verão está prestes a entrar no ar. Tanto Onildo como Fernanda estão com grande aparelhagem de comunicação com o estúdio. Começa o Jornal de verão. Até eu dou um “auxilio técnico” para eles na hora que o jornal está no ar. Apesar do nervosismo anterior à entrada ao ar, Fernanda demonstra tranquilidade ao falar as notícias do dia. “Tem que estar muito concentrada, às vezes dá vontade de rir de algumas coisas, mas não podemos”, diz a repórter.

13:20 – Acaba o jornal. Eu peço para Fernanda resumir o que ela sente quando sai do ar. “Alívio” é a única palavra que ela me fala.


Como construir uma reportagem para TV

Nesta semana continuaremos mostrando à vocês o cotidiano de uma equipe de reportagem. Ao contrário de semana passada, onde fizemos uma ordem cronológica dos fatos, hoje vamos dar um panorama geral de como foi a tarde da equipe de reportagem, já que esse período teve mais procedimentos técnicos do que práticos para a construção da matéria. Vejam como funciona o processo de estúdio para a construção de uma notícia para TV.

Depois de ser gravada, uma reportagem passa por alguns processos técnicos até estar pronta para ir ao ar. Logo após a captação de imagens, o vídeo bruto (como eu disse semana passada, grava-se muito e não se aproveita quase nada) passa pelo estágio da decupagem. Esse processo nada mais é do que a seleção das imagens que vão ser aproveitadas na matéria, ou seja, tudo que o repórter deseja que vá ao ar é passado para o papel. Este papel é mandado para a equipe de edição de imagens para a edição de imagens.

Enquanto o vídeo é editado, o repórter já prepara o texto para o Off. Como já disse na semana passada, Off é uma narração feita em estúdio em cima de imagens e que serve para situar o espectador na matéria. O Off é mandado para a equipe de edição de som, que normalmente coloca uma trilha sonora para deixar a matéria mais interessante. O último estágio é a colocação dos créditos (nome do repórter, entrevistados e local da reportagem) na matéria. A tarde da equipe da casa de verão da Band foi praticamente para dar conta desse processo técnico.

Após voltar do almoço, a repórter Fernanda Farias soube que a matéria sobre a água fria no mar iria ser apresentada para todo Brasil, no Jornal da Band e que deveria ter algumas modificações. A produção de Porto Alegre pediu mais um depoimento: de algum pescador que estivesse sendo prejudicado pela água fria do mar. Algumas imagens que não foram aproveitadas na reportagem ao meio-dia seriam aproveitadas para o jornal da noite.

Tivemos que sair de carro e caçar o tal pescador que a produção de Porto Alegre precisava. Fomos até Passo de Torres, cidade que fica na divisa do Rio Grande do Sul com Santa Catarina (Torres fica do lado gaúcho e Passo de Torres no catarinense). Muito do tempo que é gasto para cobrir uma notícia acaba sendo perdido dentro de um carro. Gastamos cerca de uma hora para achar os entrevistado, gravar uma “passagem” (texto no qual o repórter fala do próprio palco da matéria) e voltar ao estúdio, sendo que para fazer as gravações demoramos de 15 a 20 minutos. E lá se foi a tarde toda.

A noite chegava e com ela a hora do Band Cidade. Claro que os níveis de estresse também aumentaram um pouco, como naquela relação Estresse x Hora de entrar no ar, que eu citei semana passada. Novamente, gritos ao telefone e cobranças eram ouvidos no estúdio de verão da Band. Mas, o mais incrível é que na hora de aparecer na tela a bela Fernanda demonstra muita tranquilidade. “Ela cresce muito no vídeo”, diz Carlos Totti, da própria Band-RS. Tudo transcorre tranquilamente e finalmente acaba o dia da reportagem, depois de uma jornada de 11 horas de trabalho.

Reportagem escrita para o blog Histórias e Rankings em 2009

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