Em algumas ocasiões, a situação dos brasileiros se assemelha a de um filme ou novela. Quando parece que estamos superando algum problema, o inimigo vem e traz as problemáticas novamente. Como todo bom filme hollywoodiano ou novela das oito, a violência é tema recorrente. A bola da vez é “o Rio de Janeiro e os ataques terroristas dos bandidos traficantes”.
A frase entre parêntesis do parágrafo anterior é sucesso garantido de audiência para qualquer título de filme. Afinal, quem não se intimidaria com uma ameaça tão recorrente: traficantes perigosos que queimam carros e fazem arrastões. É pura nitroglicerina. Só falta um detalhe nesta história: cadê os heróis para socorrer a população?
A diferença entre ficção e realidade é justamente esta. Os heróis da realidade não chegam aos pés dos heróis da ficção. No caso do Rio de Janeiro, os heróis poderiam ser a turma do Capitão (ou Coronel) Nascimento ou então o secretário de segurança do Estado, José Mariano Beltrame. Mas vamos combinar que nenhum deles é capaz de lidar com o inimigo real.
Ainda posicionando o leitor de como é esta ficção da vida real, vamos falar dos vilões. Se fosse um filme ou novela, com certeza os vilões seriam os traficantes maldosos e seus fuzis AR15 e AK 47. Feios, sujos, negros e muito maldosos, os traficantes fazem tudo isso só por ruindade. E vontade de ter de volta os territórios dominados.
Como se trata de vida real, o vilão está um pouco mais oculto. Ele pode ter terno e gravata e desviar um pouco de verba que poderia ir para a população carente. Pode ser uma pessoa que promete que os pobres terão direito a saúde, educação, emprego digno e lazer, mas que quando está no comando pensa apenas em mandar dinheiro para as Ilhas Cayman. Também pode ser um “digno” empresário, que pensa no crescimento da empresa em detrimento do bem estar do funcionário.
Poderia passar horas citando inúmeros vilões. No caso das vítimas, também passaria um bom tempo falando de quem sofre com toda esta situação. Citaria até os barbudos e maldosos traficantes, que tem sua parcela de culpa, mas que talvez agisse diferente se tivesse outras chances para sobreviver de forma digna. E o que assistimos na TV? A versão hollywoodiana é claro. A versão em que heróis trocam tiros com vilões para salvar a população de uma bela cidade.
É preciso analisar os fatos mais profundamente para não cairmos no erro de comprar e vender uma história com tantas luzes e apontar os vilões diferentes. Não que a polícia não deva reagir aos ataques dos traficantes. Mas que não fique apenas nisto. É preciso apontar outros vilões desta história, ou então vamos ficar de tempos em tempos assistindo mesmo filme da vida real. Só o que mudará é o cenário.
Texto escrito para a disciplina de jornalismo opinativo na UEPG em 2010
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