Se analisarmos a biografia e a lista de filmes produzidos pelo australiano Peter Weir, podemos perceber que ele dirigiu seus principais filmes como se fosse um retrato da própria história. Tanto em O Show de Truman como em Sociedade dos Poetas Mortos (outro famoso filme dirigido por ele) Weir usa a mesma temática: ele narra a tentativa dos protagonistas de romperem limites, sejam de uma sociedade conservadora e repressora (como em Sociedade dos Poetas Mortos) ou de uma realidade construída e aparentemente intransponível (como em O Show de Truman).
Estes enredos descrevem um pouco da biografia de Weir na busca do objetivo de trabalhar com cinema. Para conseguir realizar este sonho, o australiano teve que largar uma vida relativamente estável como advogado na Oceania para se tornar assistente de câmera na Europa. Ou seja, ela teve que romper as barreiras geográficas e sociais para tentar a vida no que realmente desejava.
Se mesclarmos as histórias de Sociedade dos Poetas Mortos e O Show de Truman, podemos ver um pouco do que aconteceu com Weir. Tal como o que aconteceu no filme lançado em 1989, ele teve que optar por abrir mão de um futuro garantido para se arriscar na arte. Isto acontece com o personagem Neil Perry, que pretende seguir a carreira de ator em vez de estudar em uma escola tradicional. Weir também se vê identificado em Truman Burbank (personagem de Jim Carrey), uma vez que este sonhava em romper as barreiras geográficas e conhecer o mundo.
O caminho que Truman tenta fazer é exatamente o oposto do percorrido por Weir. Enquanto o personagem sonha em sair de Hollywood e ir conhecer a Oceania, mais exatamente a ilha de Fiji, o diretor saiu do novíssimo continente, passou pela Europa (na época que trabalhou como assistente de câmera), voltou para Austrália, lançou alguns filmes locais, ganhou fama e finalmente chegou até Los Angeles.
Weir se enxergou tanto em Truman como em Perry que a própria aparência física dos três é parecida. Os personagens lembram a aparência de Weir em certas fases de sua vida. As semelhanças estão no tipo de penteado e nos formatos de rosto, que são muito parecidos. Talvez seja este fator que tenha ajudado na escolha de Jim Carrey como protagonista de O Show de Truman.
Todos estes fatos só reforçam o argumento que muitas vezes o vídeo realmente imita a vida e que o oposto também acontece. Isto faz uma frase “a realidade lá fora são as mesmas mentiras aqui de dentro” que foi falada no Show de Truman ganhar força.
E Weir tenta passar em seus filmes (talvez até de forma caricata) fatos de sua vida que podem ser refletidos no vídeo. Isto faz o expectador pensar até que ponto a manipulação da sociedade pode nos atingir e nos impedir de rompermos barreiras sociais e geográficas. Perguntas ficam no ar: será que são tão intransponíveis como uma parede de um cenário com fundo azul, ou será que há alguma porta de saída que pode nos libertar? O australiano não se preocupa em responder isto. Ele apenas aponta para as barreiras que não sabemos se são reais ou ficção para nos manter fazendo parte do grande e inebriante show da vida.
Texto escrito para a disciplina de Estética da Comunicação na UEPG em 2010
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