Em “A Arte de Fazer um Jornal Diário”, o renomado jornalista Ricardo Noblat, editor do jornal Correio Braziliense e dono de um dos maiores blogs do Brasil, mostra para jornalistas iniciantes como fazer um jornal nestes tempos, no qual o impresso passa por uma séria crise, como diz o próprio Noblat. O livro é dividido em oito capítulos, que falam de apuração, relação com as fontes, construção de layouts e sobre a arte de escrever.
O autor inicia a obra falando sobre o futuro do impresso. Ele aborda o assunto de uma forma divertida, citando um hipotético debate entre um jornalista e um leitor, onde são apontados diversos problemas estruturais nos impressos de hoje em dia, tais como: notícias repetidas, jornais que divulgam notícias que não chamam interesse do público e que afastam os jovens, além de cada vez estarem maior em volume de páginas. O resultado disso é que o jornal impresso está acabando, tudo por culpa dos próprios jornalistas, segundo Noblat. Ele diz que a salvação do impresso depende de uma reinvenção de editores e jornalistas, a fim de fazer jornais que surpreendam e atraem leitores.
Na sequência, o autor faz um debate ético do papel do jornal na sociedade. Ele cita quatro deveres fundamentais dos jornalistas: com a verdade, com o jornalismo independente, com os cidadãos e com a própria consciência. Apesar de aparentemente óbvios, muitas vezes os jornalistas não seguem esses compromissos devido a concentração de poder na mão de poucos grupos. Noblat condena o jornalismo que não distingue o interesse público do que interessa ao público. Não é de interesse público saber detalhes sobre o nascimento da filha da Xuxa. Segundo o autor, cabe ao jornalista fazer uma boa escolha das notícias.
Uma vez escolhida a notícia, deve-se apurar bem. Sobre a “arte de apurar”, Noblat diz que é tão importante quanto a “arte de escrever”. Hoje em dia, é necessário apurar e escrever bem para ser um bom jornalista.
No livro são mostradas várias experiências pessoais do autor, que ilustram bem como se deve apurar uma informação. Para se ter uma notícia confiável é preciso dar atenção aos detalhes. Quanto mais detalhada é uma informação, mais o público e o jornalista se familiarizam com ela. Outra dica dada pelo jornalista se trata da pluralidade. O repórter deve buscar sempre a pluralidade. Ouvir os dois lados é primordial para se ter uma boa matéria, e como diz Noblat, “Denúncia não é notícia, notícia é denúncia com fundamento”. O repórter deve buscar sempre a verdade, o fundamento da informação. Em suma, o segredo de uma boa apuração é não ter preguiça jamais e sempre buscar a verdade.
Os capítulos do livro são divididos nos passos para a construção de uma reportagem jornalística. No capítulo seguinte ao da apuração, o autor ensina como escrever bem. Noblat diz que frases curtas e simples ajudam o leitor a entender o mais importante: o conteúdo da matéria. Escrever de forma simples não significa utilizar chavões ou gírias. O respeito às normas da língua portuguesa é fundamental. As reportagens dos jornais têm que ser mais do que informativas, mas não devem cair na esfera opinativa. Um lide interessante é fundamental para conquistar o leitor nas primeiras linhas. Aliás, o lide é polemicamente considerado morto por Noblat: “ele morreu, apenas não foi enterrado”.
Depois de falar como escrever e apurar, Noblat mostra todas as outras “artes” primordiais ao jornalista. Titular bem uma notícia é importantíssimo para uma matéria, pois atrai o leitor. Só não vale fazer propaganda enganosa. Palavras que eximem dúvidas não devem ser utilizadas. Ponto de interrogação, nem pensar.
O modo de ação do jornalista também influencia a forma que ele escreve. A relação com as fontes é algo abordado pelo autor. Ele diz que não há mal nenhum em aceitar presentes e convites, mas nunca deve-se deixar influenciar em suas matérias. Ele completa: “não dá certo fazer amizade com fontes de informação. Eles podem manipular o jornalista. O bom jornalista tem poucas amizades”.
No último capítulo, Noblat fala sobre a reforma gráfica de seu jornal, o Correio Braziliense, se utilizando de fotos comparativas das mudanças de layouts do impresso. A reinvenção do jornal serviu para renovar seu público. Em toda a obra, o autor fala que para sobreviver o autor deve se renovar. Ele utiliza didaticamente suas experiências como jornalista, desde seus tempos de “foca” até a reforma do seu jornal de Brasília. “A Arte de Fazer um Jornal Diário” é uma importante obra para direcionar estudantes, reciclar jornalistas e divertir o público com muitas histórias que buscam ensinar essa arte, na qual muitos jornalistas tentam, mas poucos chegam à perfeição.
Resenha escrita para a disciplina de Redação Jornalística na Universidade Estadual de Ponta Grossa em 2009
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