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11 de dezembro de 2009

Do caipira ao universitário

A música sertaneja se transforma para se tornar cada vez mais popular

A música sertaneja caiu novamente no gosto popular em todo Brasil. Os números comprovam a popularidade do ritmo. Segundo a Associação Brasileira de Produtores de Discos, entre os dez álbuns mais vendidos de 2008, quatro eram de cantores sertanejos. O que alavancou as vendas nos últimos tempos foi a popularização do sertanejo universitário, mais nova variação do estilo.
O sertanejo universitário pouco lembra as modas de viola tocadas pelos precursores do sertanejo de raiz (ou música caipira) do início do século passado. O novo ritmo utiliza elementos do rock, axé e até de música eletrônica em seus arranjos. A diferença entre estas duas ramificações da música sertaneja é reflexo das inúmeras mudanças que o estilo sofreu desde sua fundação até hoje.
Segundo o site do dicionário Cravo Albin da música brasileira, o primeiro disco de sertanejo no Brasil foi de Cornélio Pires, em 1928. Mas antes disso, já existiam indícios do estilo musical. “No início do século passado, Villa-Lobos já exibia elementos de música caipira em suas composições”, conta o professor de música Davi Bronguel. A música caipira era tocada basicamente em viola e contava histórias de elementos da vida no interior do Brasil.
A tradicional forma de se cantar em duplas vem desde o sertanejo de raiz. “Cantar assim é uma das marcas do sertanejo. A primeira voz segue a melodia da música e a segunda faz o complemento, sempre com uma nota um pouco mais alta”, explica a professora de piano Jociane Pereira. O resultado da união das duas vozes é um som harmônico, ou seja, mais “cheio” que uma melodia cantada em solo.
Por volta da década de 1980, uma nova ramificação surgia na música sertaneja. “O sertanejo romântico logo caiu no gosto do povo. Os temas das músicas eram amor, paixão e dor de cotovelo”, explica o radialista Stéfano Júnior, que tem um programa musical totalmente voltado ao gênero. Foi no sertanejo romântico que o estilo se popularizou e se espalhou pelo Brasil.
“A música sertaneja viveu um período de ouro entre final de 1980 e começo de 1990”, diz Stéfano. Nesta fase, Duplas como Chitãozinho & Xororó e Leandro & Leonardo surgiram e se tornaram sucessos populares. Nas músicas, foram agregados instrumentos como guitarra e bateria e os shows começavam a ser superproduções, dignas de astros da música pop.
O sertanejo universitário é o sucessor do sertanejo romântico. Além das músicas que falam de amor, foram compostas canções alegres, sem sotaque do interior e inclusive com algumas gírias. As novas duplas pouco lembram os “caipiras” do sertanejo de raiz. A nova divisão do sertanejo conquistou as festas do público entre 15 e 30 anos. Após o samba e forró, o sertanejo também ganhava o título de universitário.
O músico Orlando Rossini, fala que apesar de não gostar muito do sertanejo universitário, está feliz com a fase que a música atravessa. “O sertanejo está mandando no pedaço. Até quem toca o sertanejo de raiz se beneficia com isto”, fala Rossini, que tem em seu repertório músicas sertanejas de raiz e romântico e só agora decidiu lançar seu primeiro CD.
Com tantas mudanças, a “nova” música sertaneja é criticada por ter se tornado um produto exclusivamente comercial. “Tecnicamente, algumas canções são boas. Mas artisticamente, não há como valorizar uma música feita para vender”, afirma Bronguel. Jociane também critica a música sertaneja recente: “O sertanejo original foi deturpado para poder vender. Virou música pop”, conta a professora.


Reportagem escrita para ojornal Foca Livre em 2009

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