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11 de dezembro de 2009

O líder de uma tribo princesina

Cabelo Black Power no melhor estilo anos 70, camisa da seleção brasileira e uma calça jeans. Desta forma se apresenta o nosso personagem, que já virou celebridade musical em Ponta Grossa. Para alcançar este status, Scilas de Oliveira batalhou muito. Percorreu os caminhos da música erudita, tocou sozinho em bares na noite da cidade e hoje é vocalista da banda Mandau.
 
Ponta Grossa, dia 21/11. A cidade que ficou pequena para Scilas e a sua banda está pronta para mais uma apresentação. As luzes se apagam e aplausos ecoam no Cine Teatro Ópera. O vocalista entra lentamente no palco. Nenhuma palavra é dita. As boas-vindas são dadas através dos acordes da primeira canção. O público entra em delírio. E o show está apenas começando.

Voltar à Ponta Grossa representa muito para Scilas. Mais do que se apresentar no local onde se consagrou, é a chance de rever à família, os amigos e a namorada. Desde julho deste ano, o músico mora em São Paulo junto com os outros integrantes da Mandau. Na capital paulista, eles pretendem conquistar o Brasil com a mistura de samba, black music, soul e música latina que a banda faz.

Desde criança, Scilas dava mostras que seguiria a carreira musical. “Nem sabia falar, mas quando escutava uma canção, ficava murmurando a melodia”, conta o pai do cantor, Augusto de Oliveira. Até hoje, os pais do músico tem as primeiras gravações dele. Com cinco anos de idade, o pequeno garoto já interpretava sucessos da música sertaneja da época. “Ele era afinado”, completa Augusto.

Com nove anos de idade, Scilas já tocava os primeiros acordes de violão e teclado. “Com onze anos, ele até fez uma participação como backing vocal na banda do tio”, conta a mãe, Marilza Oliveira. Porém, foi com doze anos de idade que a vida musical do cantor deu uma guinada. “Foi no conservatório musical que eu realmente aprendi a tocar. Lá tive uma formação erudita”, diz o próprio Scilas.

Mesmo em uma família repleta de músicos, ele foi o primeiro a conseguir uma vaga no disputado conservatório da cidade. O pai dele tentou cinco vezes entrar e não conseguiu. “O mais incrível é que entrou de primeira”, conta o pai. As aulas de violão clássico deram uma formação teórica e aprimoraram a técnica de Scilas. Tanto que quando se formou, foi convidado para dar aulas no local, mas não aceitou.

Aos 16 anos é que Scilas descobriu uma nova paixão: o samba. “Quando eu era criança gostava de música sertaneja. Depois comecei estudar erudita e a ouvir pop rock nacional. Por fim, descobri o samba e o soul e fui me aprimorando”, diz o cantor. E foi viajando aos clássicos destes ritmos que Silas se inspirou e compôs quase cem canções até o momento na sua carreira.

Scilas é um dos raros casos de músicos sempre conseguiu se sustentar sem outro emprego complementar. Ao contrário, com a música pode inclusive ajudar os pais na época em que estavam desempregados. “Seja com shows em bares ou dando aula, ele se manteve pela música”, diz a mãe do cantor.

Aos 17 anos, o músico teve seu primeiro grande momento na carreira: a premiação como revelação do Festival Universitário da Canção (FUC) em 2005. Como prêmio, ele ganhou um violão e um pouco de fama na cidade. “A canção Ventos de Amor é que me levou ao prêmio. Foi um momento emocionante demais para mim”, diz Scilas.

As coisas estavam mudando em um ritmo alucinante para o cantor. Em uma das apresentações, conheceu a namorada Denise Ribeiro. “Lembro que ele estava tocando o Samba do Ernesto (música dos Demônios da Garoa) quando vi ele pela primeira vez. A gente acabou se conhecendo através de uma amiga em comum e estamos juntos até hoje”, diz Denise. O relacionamento já dura cinco anos.

Outro casamento mudou a vida de Scilas na mesma época. Ele já conhecia o tecladista Guido Júnior do conservatório e os outros integrantes dos shows na noite da cidade. Resolveram então criar um som que juntasse o gosto de todos. A miscelânea de ritmos resultou na banda Mandau. Segundo o vocalista, o nome da banda vem de uma tribo africana e significa “a magia da música sobre as pessoas”.

Esta magia realmente contagiou os jovens de Ponta Grossa. Para os shows e as premiações aparecerem foi apenas questão de tempo. “O mais interessante é que antes da Mandau, os bares não contratavam grupos, apenas cantores de voz e violão. A banda ajudou a mudar as coisas”, afirma o pai de Scilas. O primeiro CD, com o mesmo nome da banda, vendeu cerca de 5 mil cópias. “Todas as vendas foram em shows”, diz o cantor.

Com tanto sucesso, a ida para São Paulo foi inevitável. “No começo foi difícil aceitar a ida dele, mas como era o melhor para todos, o jeito é se acostumar”, fala Denise. Scilas e a Mandau foram para a capital paulista sem nenhum show marcado e com pouco dinheiro.

Já na estreia, algo curioso aconteceu: “a gente ia dar a nossa primeira ‘canja’, mas quando terminamos a primeira música, entrou o pessoal do Profissão Repórter, da TV Globo. Eles estavam fazendo uma reportagem sobre barulho noturno. Não tocamos mais naquele dia”, conta Scilas. Mesmo sem querer, a Mandau já estava famosa nacionalmente.

Este início parece ter dado sorte para Scilas e seus amigos. Apesar de escrever canções que descrevem a região de Ponta Grossa, como Lagoa Dourada, as músicas tiveram boa aceitação em São Paulo. “O pessoal inclusive acha que é algo psicodélico a história de Lagoa Dourada e cidade princesina”, explica o músico. Os shows começaram a aparecer, até que o grande momento da carreira de Scilas aconteceu.

Um festival de uma empresa de telefonias reunia 130 bandas de todo o Brasil. O prêmio era tocar em um festival na cidade de Santos, junto com nomes como Jota Quest e Toni Garrido. A Mandau venceu e fez o maior show da carreira. “Tocar para 55 mil pessoas foi perfeito. Acho que é o começo de tudo”, conta Scilas.

O cantor diz que já realizou uma parte de seus sonhos, mas como todo artista em ascensão, ele quer mais. “Não imaginava chegar tão longe, sempre fui muito pé no chão. Mas, agora a gente quer ir cada vez mais longe. E buscar uma estrutura cada vez melhor para podemos mostrar a qualidade da banda”, conta Scilas de Oliveira, que com apenas 23 anos já é um dos mais famosos músicos da cidade princesina, reino da lagoa dourada.

Reportagem escrita para a disciplina de Redação Jornalística II na Universidade Estadual de Ponta Grossa em 2009

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