Um trabalho em horário comercial, carteira assinada, salário fixo e tentativas de promoções de cargo. Nenhum desses requisitos faz parte da vida desta mulher de 31 anos, rosto cansado e um pouco acima do peso que se apresenta como Ivone. Ela trabalha na profissão conhecida como a mais antiga do mundo: é garota de programa há quatro anos e trabalha no Niki´s bar, localizado no centro de Ponta Grossa.
O cenário onde Ivone passa metade do seu dia é um dos locais mais folclóricos da cidade. O bar se localiza em uma esquina, em frente a um semáforo e uma lombada. Conta-se popularmente que esta combinação é feita para as pessoas serem forçadas a pararem no Niki´s. Mel, a gerente do local brinca com a lenda: “Foi a prefeitura que quis nos ajudar”, diz a chefe de Ivone, aos risos.
O cenário onde Ivone passa metade do seu dia é um dos locais mais folclóricos da cidade. O bar se localiza em uma esquina, em frente a um semáforo e uma lombada. Conta-se popularmente que esta combinação é feita para as pessoas serem forçadas a pararem no Niki´s. Mel, a gerente do local brinca com a lenda: “Foi a prefeitura que quis nos ajudar”, diz a chefe de Ivone, aos risos.
Apesar da “popularidade”, o local não tem boa infra-estrutura. Um pedaço velho de madeira tampa metade da entrada do bar. Ele serve para proteger as “damas da noite” dos olhares discriminatórios das pessoas que passam na movimentada rua à frente do local. Ivone trabalha em um ambiente com paredes mofadas e uma velha Jukebox, que toca incessantemente velhos sucessos da música sertaneja.
Ivone é natural de Guarapuava. De família humilde, começou a estudar com 10 anos de idade. Parou aos 16, na sexta série do ensino fundamental para se casar com Carlos e se mudar para Ponta Grossa. Do casamento de 12 anos, nasceram duas crianças. Uma com sete e outra com 12 anos. A família vivia junto até o marido sair de casa para se casar com outra mulher. Este foi o passaporte para a nova vida de Ivone.
Apesar de declarar não gostar da vida que leva, Ivone não vê perspectivas de mudança. “Este trabalho é um vício. É que nem uma droga. Aliás, eu não uso drogas. Mas, creio que tenho problemas para sair desta vida. O dinheiro é fácil”, diz a garota de programa. Ela ganha de dois a três mil reais por mês com o trabalho, mas para chegar esse valor tem que “ir para o quarto” cerca cinco vezes por dia.
O dia de nossa personagem começa tarde. Ivone acorda às 14 horas. Não tem horário para estar no Niki´s, mas costuma chegar ao trabalho às 5. As “primeiras horas do dia” dela são para fazer tarefas triviais do dia-a-dia. “Tenho que me cuidar o máximo possível. Vou ao cabeleireiro e a manicure toda semana. Nas tardes eu faço compras no mercado e em lojas”, fala Ivone.
Quando caminha pelas ruas do centro de Ponta Grossa. Ela tenta passar despercebida no meio da multidão. “Ninguém sabe o que eu faço, e isto não está rotulado na minha cara. Claro que tenho medo de algum escândalo, mas mesmo quem me conhece não vai dizer quem eu sou”, explica Ivone. De qualquer forma, a garota evita lugares onde pode ser reconhecida, como no trabalho de alguns de seus clientes.
Em uma vida onde sexo é negócio, Ivone sente dificuldades de se relacionar efetivamente. “Minha vida não tem amor. Minha maior decepção eu já tive. Eu tenho que ser profissional, já tive namorados fora do trabalho, mas é difícil alguém aceitar a vida que eu levo”, conta a garota de programa. Mesmo dos “namorados fixos”, ela costuma cobrar para transar.
Às 5 da tarde, Ivone está no bar. Com uma roupa curta, ela ouve gracejos a noite inteira. A ousadia dos clientes vai longe. Num cenário de luz baixa e com diversas garrafas de cerveja vazias, os homens se esfregam e põem a mão em todos os lugares que conseguem nas garotas. No dia desta entrevista, cinco meninas de 25 a 40 anos e a gerente Mel estavam “divertindo” quatro homens no Niki´s.
“Sexo é bom, mas quando a coisa se torna obrigatória é terrível. Os caras acham que a gente pode fazer tudo, principalmente quando entramos no quarto”, relata Ivone. O “quarto” do bar não passa de uma área de 5 metros quadrados com uma cama de casal. A porta do “ninho do amor” é uma cortina suja. É neste espaço que a garota de programa se entrega aos clientes. O preço médio é do programa é 50 reais.
Ivone diz que já passou por tudo no Niki´s. “Já tive que apartar briga de gangues, que quebraram todo o bar. Também já briguei com outra garota. Estávamos bêbadas e ela tinha muito ciúme de mim. Acabamos saindo nas garrafadas. Terminamos no pronto-socorro e minha herança é essa aqui”, conta a garota enquanto aponta para a pequena cicatriz que tem no queixo, fruto da briga com uma “colega”.
Após o dia de bebidas, cigarros e homens, a nossa personagem volta para casa por volta das três da manhã. “Moro a uma quadra do trabalho. Volto tão cansada que só me resta dormir”, diz Ivone. O domingo é o único dia diferente da semana para ela. Depois de uma semana vivendo e sobrevivendo do sexo, a garota de programa vê os homens que ela mais ama: seus pequenos e até agora inocentes filhos.
Nos domingos, Ivone pode relembrar a vida de dona de casa que levava antes de virar prostituta. Ela vê os filhos, que não sabem ainda da vida alternativa da mãe. As crianças moram com a avó paterna, com quem Ivone mantém boa relação, apesar da fuga do marido. A folga é o dia em que nossa personagem aproveita para fazer várias coisas diferentes, como por exemplo, não fazer sexo. Afinal, todos têm que descansar.
Reportagem escrita para a disciplina de Redação Jornalística II na Universidade Estadual de Ponta Grossa em 2009
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