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28 de março de 2010

O pobre horário nobre

“Todo dia tem a hora da sessão coruja. Só não entende quem namora”. Os versos da canção do poeta Cazuza podem ser perfeitamente encaixados no contexto atual da nossa mídia. Sorte de quem namora e não precisa se ver obrigado a aturar a sessão coruja da nossa televisão brasileira. Porém, atualmente os horários que têm dado mais tédio nos telespectadores não são nas madrugadas.

A coruja é aquele clássico pássaro que tem a fama de ficar acordado enquanto todos os outros animais descansam e dormem. O tédio do horário nobre é tanto que aqueles que conseguem sobreviver a esta programação pode ser considerados corujas heroicas. Nunca o horário nobre da TV foi tão pobre. Ou talvez sempre tenha sido assim, mas poucas corujas que não estão envolvidas pela letargia dos momentos da TV é que conseguem enxergar.

Campeã de audiência, há muitos anos a Rede Globo têm se destacado entre todas emissoras. Um dos seus trunfos é dominar a audiência no horário que vai das das 18h até as 22h. Construindo uma tradição em novelas, a Globo mudou os hábitos dos próprios brasileiros. E são utilizando as novelas que a Globo preenche a nobre hora da TV.

As novelas começam as cinco da tarde. A Malhação é feita para o público jovem. Criar tendência de moda e comportamento em um grupo que está na fase de formação e ainda por cima conseguir fazer um laboratório de atores é ótimo para o canal de TV. Mas e o público, como fica nesta história? Será que a melhor formação para o futuro do país é esta?

Incentivar o consumismo e ainda por cima utilizar histórias piegas, que estereotipam e dividem os jovens em tribos, só corroboram com a superficialidade na juventude. Será que é esta a visão que os “adultos” (produtores da novela) têm realmente da nossa juventude? Por que não incentivar os jovens a entrarem no mercado de trabalho ou fazer algum programa voltado ao aprendizado como uma aula de língua estrangeira ou preparando para o desafio do vestibular  nesta hora?

Após ao horário “dedicado” aos jovens. Chega a hora das maratonas das novelas. Sempre baseadas na linearidade, as novelas brasileiras têm sido não apenas entretenimento (fraco, apesar de plasticamente delas serem bem produzidas), como também canal de difusão ideológica. As novelas moldam e são moldadas pelo Brasil. E o público faz sua rotina na expectativa que desta vez a mocinha da história não conseguirá se salvar, mesmo sabendo como será o final.

As novelas já têm temáticas pré-definidas. A das seis normalmente trata de algum tema de outra época, porém pouco explora culturalmente esta época estudada. Já a das sete horas tem um cunho mais humorístico, em alguns casos partindo para o apelativo. É a novela dos belos corpos, sejam masculinos ou femininos.

A novela das oito, que por motivos comerciais tem começado cada vez mais tarde, é o carro chefe das produções. Ela aborda temas nacionais e realmente consegue em muitos casos influenciar as população. Ela faz o povo apoiar as células-tronco, ouvir forró e achar que a traição é algo totalmente humano e incontrolável.

O poder da novela das oito é proporcionalmente inverso com a qualidade de suas tramas. Enredos lineares e prolixos fazem a melhor das novelas parecer inferior que a pior produção de cinema existente. Mas mesmo assim elas ainda cultivam a audiência daqueles que não querem pensar muito, apenas se divertir olhando a mocinha e o mocinho.

Nos primeiros meses do ano, o horário nobre da TV Globo é “presenteado” com mais uma produção esdrúxula, mas também altamente lucrativa. O Big Brother Brasil é o melhor local para se vender detergente, motos ou produtos em algumas lojas de departamento. A trama é no nível de todas novelas do canal. Talvez seja este o sucesso do BBB.

No famigerado reality show, as câmeras flagram a “realidade do ser humano”. E o povo vai assistindo a tudo na expectativa de quem entre os participantes (vítimas e protagonistas da novela) vai conseguir mudar de vida. E assim o BBB já sobrevive por 10 anos e também começa a ajudar na construção da realidade brasileira.

A sorte da Rede Globo é que suas principais rivais apresentam programas tão fracos no horário nobre que muitos optam por continuar assistindo as novelas e ao BBB. A Bandeirantes chega inclusive a vender o horário para pastores que pregam que a salvação está em cumprir as leis de suas igrejas e ajudá-las financeiramente.

Record e SBT não só imitam a fórmula das novelas da Globo, como conseguem fazer histórias ainda mais monótonas e sem sal. Talvez nem Cazuza  imaginaria que a verdadeira sessão coruja acontece em um horário que estamos dormindo acordados em frente à TV e pensamos ser tratados como nobres, mas ficamos cada vez mais pobres. Sorte de quem ainda namora.

Texto escrito para a disciplina de Jornalismo Opinativo na UEPG em 2010

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