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5 de abril de 2010

Crise faz dekassegui mudar hábitos de consumo

Brasileiros reaprendem a economizar com a queda dos salários no Japão
 
O alto nível salarial do Japão é um dos principais motivos que levam os brasileiros a trabalharem no outro lado do mundo. Porém, devido a forte crise que afetou o país e a concorrência da mão de obra de imigrantes de outros lugares da Ásia, esta realidade tem mudado. Com um menor salário pago por hora e diminuição de horas extras, os rendimentos dos dekasseguis no fim do mês têm ficado cada vez menores.

Com a queda salarial, os dekasseguis se veem obrigados a pensar em uma mudança nos hábitos de consumo. Até pouco tempo atrás era comum ver os brasileiros gastando muito com carros, refeições fora de casa, viagens e ainda sim conseguindo juntar dinheiro. A crise fez os imigrantes reaprenderem a economizar como se estivessem no Brasil.

Como os dekasseguis economizaram no auge da crise

Assim que o Japão entrou em recessão, a fábrica que Mário Goto trabalha na cidade de Yatomi (Aichi) reduziu o salário dos funcionários de 1200 para mil ienes por hora. As horas extras também foram cortadas. “Trabalhávamos onze horas por dia de segunda a sábado nos dois turnos. Com a crise, acabou a hora extra, trabalhávamos de segunda a quinta-feira e quem estava no noturno só fazia cinco horas de jornada”, fala Goto.

Mário conseguiu se manter no Japão graças ao cortes de gastos que fez. “Nunca fui de esbanjar muito, mas tive que economizar mesmo. Uma coisa que procurei fazer foi andar mais de bicicleta. Além de poupar combustível, me ajudava na saúde”, conta Goto. Neste mês as horas extras voltaram, mas ele não é muito otimista quanto ao futuro no Japão: “A tendência é ir piorando, pelo menos para os brasileiros”.

A aromaterapeuta Kátia Sakugawa sentiu na pele a queda no consumo dos dekasseguis. Com um negócio voltado aos brasileiros, ela diz que os rendimentos caíram mais de 50%: “As pessoas não tem dinheiro nem para comer, quanto mais para cuidar da saúde. Os clientes sumiram. Alunos de cursos nem se fala. Até os mais antigos não faziam mais as sessões de aromaterapia, apenas compravam produtos.”, diz Kátia.

A alternativa da aromaterapeuta foi entregar o apartamento que morava sozinha para voltar a morar com os pais. “Meus pais tinham uma hortinha e dela tirávamos uma parte do nosso alimento. Deus nos abençoou”, explica Kátia. Atualmente, ela está morando com a cunhada e tem esperanças que a situação melhore: “Pior do que estava não tem como ficar”.

A recessão como aprendizado para o futuro

Pouco antes do Japão entrar em crise Priscila Kiguti planejava viajar para a França com o seu marido. Com a vida estabilizada na terra do sol nascente, o casal gastava bastante. “Quando chegamos ao Japão, nós sempre pensávamos em guardar dinheiro. Mas para sair da rotina apartamento-fábrica resolvemos viver mais e começamos a gastar mais”, afirma Kiguti.

Viagens, carros, roupas novas e jantares fora de casa faziam parte da rotina do casal. Até que Priscila teve uma redução de 100 mil ienes no salário. “Nunca imaginávamos que viria uma crise como esta”, conta Priscila. Ela se diz feliz pela tão sonhada viagem para a França não ter sido feita. “Seria um rombo nas nossas despesas”, diz Priscila.

Os hábitos dela e do marido mudaram completamente com a redução salarial. Em vez de ir a restaurantes passaram a cozinhar em casa. As roupas passaram a ser lavadas com a água do ofurô. Gastos como telefone também foram reduzidos. E as compras, antes normais, foram cortadas. “Gastávamos 400 mil ienes por mês. Agora dá para passar com 250 mil. Aprendemos a economizar”, diz Priscila.

Carlos Ishigaki, que trabalha em uma empresa que coloca brasileiros no mercado de trabalho japonês, diz que o futuro em relação ao salário é incerto. “Vai depender do andamento da crise e da demanda por mão de obra”, fala Ishigaki. Seja qual for o futuro uma coisa é certa. Com crise ou não, o aprendizado econômico que Priscila, Mário e Kátia tiveram na crise ainda os ajudarão muito na terra do sol nascente.

A crise em números

36800 ienes = É quanto perde por mês um trabalhador que teve redução de 200 ienes do salário por hora.
*34500 ienes= É quanto perde por mês um trabalhador que perdeu uma hora extra por dia.
*48000 ienes= É quanto perde por mês um trabalhador que deixa de trabalhar aos sábados.
*Salário base 1200 ienes/hora

Reportagem publicada no jornal Nippo-Brasil em 2010

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