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19 de junho de 2010

O abandono que levou a fundação da AfadBrasil

Quando o autônomo Djalma Straube sentou na bancada do Senado para falar da situação das famílias abandonadas pelos parentes no Japão, vinte anos de memórias vieram à tona: a viagem da ex-esposa Izaura, as dificuldades de criar duas filhas e a fundação da associação que luta pelos direitos dos familiares de quem optou por cortar laços com a vida no Brasil.

Até 1992, os negócios de Djalma iam muito bem. O sustento da esposa Izaura Oka e das filhas Lilian (então com 5 anos) e Gabriela (na época com 1 ano) era tirado do trabalho com artigos de escritório como máquinas de datilografia e mimeógrafos em Mogi das Cruzes-SP. Só que o avanço tecnológico e a liberação da importação de computadores levaram a microempresa de Djalma à falência.

Nesta época, o fenômeno dekassegui começava a crescer entre os nikkeis e solução encontrada foi a ida da família para o Japão. Djalma e Izaura providenciaram toda a documentação para a viagem, mas não conseguiram embarcar juntos. “As agências alegavam que as crianças eram pequenas demais ou que só contratavam  trabalhadores que falavam japonês ou mesmo que só contratavam descendentes”, diz Djalma.

A solução encontrada pelo casal era Izaura ir para o Japão e depois de algum tempo o marido viajar com as filhas. Durante dois anos o casal manteve contato. Segundo Djalma, Izaura mandava o dinheiro para a construção da casa e dizia que no Japão não havia emprego para o marido. Enquanto a casa estava sendo construída, Djalma e as crianças moravam com os pais de Izaura.

Problemas de relacionamento o levaram a sair da casa dos sogros antes do término da construção. Djalma diz que ficou com medo dos maus tratos que a filha sofria: “A família dela arranjou uma babá que não gostava da Lilian. Teve uma vez que cheguei mais cedo em casa e a babá estava batendo na minha filha”. Neste período Izaura e Djalma perderam contato.

Nos cinco anos que ficou afastado da esposa, Djalma teve que se virar para cuidar das duas filhas. “Trabalhava dez horas por dia e ainda as educava. Como tinha que conciliar trabalho e tempo com as minhas filhas, algumas vezes elas tinham que dormir em uma caixa de papelão no meu emprego”, relata Djalma. Ele conta que quando faltava gás, cozinhava em um fogão a lenha que era improvisado com galões de tinta.

Em 2000 o casal se separou. Os dois entraram em um acordo que seria mandado 300 dólares por mês para sustento da família, mas o trato foi cumprido por apenas um ano. Djalma afirma que a esposa ainda manda esporadicamente dinheiro para as filhas, mas apenas para não perder contato. “Em vez de pagar os estudos da Gabriela, ela fez a proposta para a filha ir ao Japão e juntar dinheiro para a faculdade”, diz Djalma.

Toda esta história resultou na criação da AfadBrasil. Agora Djalma luta não só por ele, mas também por 300 famílias cadastradas na associação. E diz que irá até o fim. “Se não fizerem nada a respeito da situação das famílias abandonadas por dekasseguis, vou fazer greve de fome em Brasília”, fala Djalma. Depois de criar as duas filhas e uma ONG, alguém duvida que ele é capaz de fazer isto?

Reportagem publicada no jornal Nippo-Brasil em 2010

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