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19 de junho de 2010

De esposa do chefe ao trabalho de limpeza

A agente escolar Aparecida Margarete Kayaki também esteve presente na audiência no Senado Federal. Como representante das famílias abandonadas por dekasseguis, ela teve a oportunidade de contar o que aconteceu depois que o marido Mário Kayaki viajou para o Japão prometendo uma melhora de vida em casa. Ao relembrar do que passou para criar os filhos Margarete chorou diversas vezes.

Ela chorou porque além de criar os filhos sozinha e não ter a ajuda financeira do marido (com quem é casada legalmente até hoje), teve que aguentar humilhações e perguntas das pessoas que queriam saber o que teria acontecido para o marido sumir. “Sou casada e sem marido. É triste. E o que mais pesa para mim é a questão do abandono, ele não dar bola para os filhos”, diz a agente escolar.

O pior de tudo é que Mário não tinha sequer motivos para ir trabalhar no Japão. Ao contrário da maioria dos dekasseguis, ele tinha um bom emprego. Era chefe da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) em Poá-SP. Margarete afirma que a vida do casal era boa financeiramente: “Tínhamos casa, dois carros, empregada. Ele só viajou para acompanhar os irmãos que estavam desempregados”.

A viagem de Mário aconteceu no final de 1995 e a promessa era de que em três meses a família toda embarcaria para o Japão. “Como sabia que ia para lá, vendi todos nossos pertences por um preço bem baixo”, diz Margarete. Quando chegou o prazo para a família viajar, o Mário disse que era melhor não fazer a viagem. “Ele falou que estava muito frio no Japão. Aí no verão, disse que estava se mudando”, diz Margarete.

Nos três primeiros anos em que esteve no Japão, Mário mandava dinheiro regularmente para a família. Em 1998, tudo mudou após ele voltar para o Brasil. “Ele alegava que estava sem nada. Logo foi para o Japão novamente e parou de mandar dinheiro. Na verdade, ele já estava com uma nova família”, conta Margarete. Segundo ela, Mário tem um filho de 9 anos que até pouco tempo não sabia da existência da família no Brasil.

Para criar a filha Nathen e o filho Felipe, Margarete teve que começar a trabalhar. “O lado bom de toda história é que comecei a me virar sozinha e também tive que aprender a ser pai e mãe”, conta Margarete. Ela explica que para não passar fome, precisou pedir cestas básicas para a Prefeitura de Poá. “O pior é que enquanto a gente passava por esta situação, ele (Mário) tinha carro e ficava esquiando no Japão”, fala Margarete.

O momento mais difícil para ela foi quando trabalhou de faxineira na CPTM, mesmo local que o marido havia sido chefe alguns anos antes. “Foi horrível aguentar as brincadeiras. Perguntavam se ele tinha me largado. Recebi até propostas ridículas de pessoas que acharam que eu me venderia por pouco”, diz Margarete. O sofrimento na empresa durou por cinco anos.

As mágoas de Mário não ficaram apenas em Margarete. A filha Nathen Kayaki diz que não sente mais nenhum sentimento de afeto com o pai. “Enquanto esteve comigo ele foi bom, mas hoje não consigo sentir nada em relação a ele. É como se fosse um desconhecido”, fala Nathen. Ela diz que as difíceis situações ajudaram mãe e filhos a se unir: “Nos piores momentos sempre estivemos juntos. Por isso vencemos”.

Margarete espera que um acordo entre os governos do Brasil e do Japão possa ajudar as famílias abandonadas no pedido de divórcio e pensão alimentícia. “O Felipe quer fazer faculdade de Educação Física e quero ajudá-lo. Tudo o que desejo é que saia um acordo e que eu possa educar meus filhos até o fim. É a minha esperança”, explica a agente escolar que continua casada, mas está sem marido.

Reportagem publicada no jornal Nippo-Brasil em 2010

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